Por: Alderi Souza de Matos
A escola dominical é uma das instituições mais úteis, benéficas e duradouras da história do protestantismo. Ela se insere no contexto mais amplo da educação religiosa ou educação cristã, que sempre tem sido uma preocupação da Igreja, desde os tempos apostólicos. O interesse em instruir, educar e capacitar o povo de Deus foi muito importante no Antigo Testamento, no contexto da família e da vida religiosa de Israel. No período interbíblico surgiu uma importante agência educativa judaica que foi a sinagoga. O ensino recebeu enorme ênfase no ministério de Jesus, que foi mestre e reuniu em torno de si os seus discípulos. Na igreja primitiva, as atividades didáticas foram fundamentais para a propagação e consolidação do novo movimento, como se pode verificar amplamente nos livros do Novo Testamento.
1. Um notável pioneiro
A moderna instituição conhecida como “escola dominical” teve como seu principal fundador o jornalista inglês Robert Raikes (1735-1811). Ele era natural da cidade de Gloucester e em 1757, aos vinte e dois anos, sucedeu o pai como editor do Gloucester Journal, um periódico voltado para a reforma das prisões. Nessa época, estava ocorrendo na Inglaterra o extraordinário avivamento evangélico, com sua forte ênfase social. Inspirado por outras pessoas, Raikes iniciou uma escola em sua paróquia em 1780. Ele ensinava crianças pobres de 6 a 14 anos a ler e escrever e dava-lhes instrução bíblica.
A idéia de Raikes rapidamente se alastrou pelo país. Apenas cinco anos mais tarde, em 1785, foi organizada em Londres uma sociedade voltada para a criação de escolas dominicais. Um ano depois, cerca de 200.000 crianças estavam sendo ensinadas em todo a Inglaterra. No princípio os professores eram pagos, mas depois passaram a ser voluntários. Da Inglaterra a instituição foi para o País de Gales, Escócia, Irlanda e Estados Unidos.
2. Difusão nos Estados Unidos
No fim do século 18, quando ocorreu a independência dos Estados Unidos, muitas crianças, especialmente pobres, não tinham acesso à educação. As escolas dominicais vieram suprir essa carência, além de unir o ensino religioso ao ensino geral. A primeira escola dominical americana surgiu numa residência da Virgínia em 1785. Na década seguinte, foram criadas escolas em Boston, Nova York, Filadélfia, Rhode Island e Nova Jersey. Destinavam-se a crianças que careciam de educação, muitas das quais trabalhavam em indústrias. Na cidade de Pawtucket, Estado de Rhode Island, foi iniciada uma escola na primeira usina de algodão dos Estados Unidos. Os primeiros dirigentes em geral eram leigos e líderes comunitários; o texto usado era a Bíblia e as matérias incluíam leitura, redação e valores cívicos e morais. Essas escolas dominicais prepararam o caminho para a criação de escolas públicas.
3. A organização do movimento
A partir de 1800, os propósitos das escolas dominicais americanas passaram a ser instrução e evangelismo; elas transmitiam valores cristãos e o espírito democrático da nova nação. Era um trabalho não-denominacional ou, como se dizia na época, uma “associação voluntária”, reunindo pessoas de diferentes igrejas. Em 1824 foi fundada a União Nacional de Escolas Dominicais, que organizou os líderes, publicou literatura e criou milhares de escolas no interior do país. Na mesma época, muitas denominações começaram a criar as suas próprias uniões de escolas dominicais.
Até a década de 1870, existiram dois tipos de escolas dominicais: (a) missionárias, que evangelizavam crianças em áreas rurais e bairros pobres das grandes cidades; (b) eclesiásticas, que educavam os filhos dos membros das igrejas. Em 1869 reuniu-se a primeira Convenção Nacional de Escolas Dominicais (passou a denominar-se Convenção Internacional em 1875). Uma comissão passou a preparar um currículo de lições padronizadas para uso geral (Lições Internacionais). Surgiram normas para o uso do tempo e do espaço nas igrejas e o sistema foi levado para os campos missionários no exterior.
No final do século dezenove, 80% dos novos membros ingressavam nas igrejas através das escolas dominicais. Em 1905, foi criada a Associação Internacional de Escolas Dominicais, que passou a promover convenções em muitos países, algumas das quais tiveram a presença de brasileiros.
4. A Escola Dominical no Brasil
A escola dominical chegou ao Brasil como as primeiras missões protestantes. A primeira escola dominical permanente foi fundada pelo casal Robert e Sarah Kalley em Petrópolis, no dia 19 de agosto de 1855. Sarah Kalley havia sido grande entusiasta desse movimento na sua pátria, a Inglaterra. A primeira escola dominical presbiteriana foi iniciada pelo Rev. Ashbel Green Simonton em maio de 1861, no Rio de Janeiro. Reunia-se nos domingos à tarde, na rua Nova do Ouvidor. Essa escola aparentemente foi organizada de modo mais formal em maio de 1867. Um evento comum em muitas igrejas presbiterianas brasileiras nas primeiras décadas do século 20 era o “Dia do rumo à escola dominical”, quando se fazia um esforço especial para trazer um grande número de visitantes.
Um destacado incentivador das escolas dominicais foi o Dr. Eliézer dos Santos Saraiva (1879-1944), presbítero da Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, que promoveu as primeiras convenções de escolas dominicais do Brasil, bem como encontros de confraternização e piqueniques. Outro grande incentivador foi o Rev. Erasmo de Carvalho Braga (1877-1932), que traduziu, adaptou e escreveu por vários anos as Lições Internacionais (Livro do Professor, 1921-1929), um valioso material para crianças, jovens e adultos. No início do século vinte surgiu a União Brasileira das Escolas Dominicais, depois Conselho Nacional de Educação Religiosa, cujo trabalho foi continuado pela Confederação Evangélica do Brasil.
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