Aos 84 anos, a premiada autora infantil vai celebrar as bodas de ouro na literatura com três adaptações para o teatro, um documentário e exposição. “Uma família de negros me disse que eu era a escritora que os mostrava. Isto foi muito emocionante”, contou em entrevista ao iG
Antes de começar a escrever, Ruth Rocha, autora de mais de 120 livros infantis, gostava mesmo era de contar histórias para sua filha. Foi ao ouvir um dos contos que inventava na hora para sua criança -- “minha filha falava: ‘agora conta uma história sobre aquele pote’” -- que uma amiga, editora da revista “Recreio” nos anos 1960, teve a ideia de pedir um texto a ela. “Eu falava que não sabia escrever ficção, mas um dia fui à casa dela, ela me trancou e só deixou ir embora depois que eu entregasse o texto”, conta rindo em entrevista ao iG.
Ruth comemora, a partir de 2016, os 50 anos de seu
casamento com a literatura. A festa de bodas de ouro terá as adaptações
teatrais das histórias “O Reizinho Mandão”, “Dois Idiotas Sentados Cada
Qual em seu Barril” e “Romeu e Julieta”. A estreia do documentário e
exposição “Ruth Rocha 50 anos: A Aventura de Ler” completam a
celebração.
A comemoração não poderia ser pequena, uma vez que
tramas suas como “Marcelo, Marmelo, Martelo” e “A Primavera da
Largatinha” formaram o gosto pela leitura e alegraram a infância de pelo
menos duas gerações. “Ouço sempre histórias de gente que aprendeu a ler
com os meus livros e agora leem para seus próprios netos”, ela comenta.
Aos
84 anos e com o livro mais recente, “Solta o Sabiá”, lançado em 2012,
Ruth está longe de se aposentar, mas também não está planejando novas
histórias para um futuro próximo. Ela tem se dedicado a sua coleção de
livros para educação infantil “As Pessoinhas” e para o relançamento de
seus livros, principalmente a série “O que é O que é?”.
A autora,
porém, também não se mantém longe do universo infantil e não tem papas
na língua na hora de massacrar os atuais best-sellers infanto-juvenis.
“Não é literatura, é tudo besteira”, a paulista diz. “Não acho errado
‘Harry Potter’ fazer sucesso, mas não acho que seja literatura”,
categoriza. Ela também ataca a falta de incentivo dos pais na hora de
levar os filhos a uma livraria: “vejo pais gastando R$ 1 mil em um
celular, mas não R$ 1 mil em livros”.iG: Foi difícil começar a escrever para crianças?
Ruth Rocha: Foi uma coisa fácil e natural para mim. Sei que é difícil, porque sei o quanto que a gente erra. Para mim foi uma coisa mais ou menos natural. Aconteceu, porque eu tinha uma amiga que fazia a revista “Recreio” e ela começou a insistir para eu escrever história. E eu dizia para ela que eu não sabia escrever e ela pediu que eu colocasse no papel as histórias que eu contava para a minha filha. Um dia fui na casa dela e ela me sentou lá, me trancou e fez eu escrever.
iG: Então você criava histórias para a sua filha?
Ruth Rocha: Minha filha pedia para eu inventar história. Ela dizia assim: “Eu quero a história daquele pote”. Um dia, ela me perguntou porque o preto é pobre, tive uma conversa com ela e escrevi “Romeu e Julieta” para ela. Na verdade, a minha formação é sociologia, eu tenho esta coisa com preconceito me incomoda muito. Neste dia eu fiz essa história por causa da minha filha.
iG: Você disse que os escritores infantis erram bastante. Que tipo de erro é mais comum?
Ruth Rocha: Há vários. Um deles é achar que a criança é muito pequena e não sabe nada. O outro é achar que ela é grande e sabe tudo [risos].
iG: Você está completando 50 anos de
carreira. Acha que a criança mudou muito desde quando você começou a
trabalhar, nos anos 1960?
Ruth Rocha: Olha, o que eu sei é que o meu livro que mais vende é o “Marcelo, Marmelo, Martelo”, um dos primeiros que eu lancei, em 1969. E até hoje, quando saiu em livro, começou a vender muito. A criança não muda tanto assim. O que mudou muito são os adolescentes. Porque o adolescente é quando se abre o leque da personalidade. E quando são crianças eles são muito parecidos.
Ruth Rocha: Olha, o que eu sei é que o meu livro que mais vende é o “Marcelo, Marmelo, Martelo”, um dos primeiros que eu lancei, em 1969. E até hoje, quando saiu em livro, começou a vender muito. A criança não muda tanto assim. O que mudou muito são os adolescentes. Porque o adolescente é quando se abre o leque da personalidade. E quando são crianças eles são muito parecidos.
iG: Mesmo com a tecnologia?
Ruth Rocha: São instrumentos, o iPad, o iPhone são instrumentos para as pessoas agirem. Precisam de mudanças muito profundas. A tecnologia é boa e é ruim. Tecnologia é bom, mas o uso dela precisa ser mediado por uma educação boa. E a educação está meio frouxa. A família não está educando muito, a escola não tem condição. A gente precisa de uma revolução da educação.
Ruth Rocha: São instrumentos, o iPad, o iPhone são instrumentos para as pessoas agirem. Precisam de mudanças muito profundas. A tecnologia é boa e é ruim. Tecnologia é bom, mas o uso dela precisa ser mediado por uma educação boa. E a educação está meio frouxa. A família não está educando muito, a escola não tem condição. A gente precisa de uma revolução da educação.
iG: O que acha destes novos best-sellers, que misturam fantasia, com a presença de vampiros e bruxas?
Ruth Rocha: Isto não é literatura, isto é uma bobagem. É moda, vai passar. Criança deve ler tudo, o que tem vontade, o que gosta, mas eu sei que não é bom. O que eu acho que é literatura é uma expressão do autor, da sua alma, das suas crenças, e cria uma coisa nova. Esta literatura com bruxas é artificial, para seguir o modismo. Acho que o Harry Potter fez sucesso e está todo mundo indo atrás.
Ruth Rocha: Isto não é literatura, isto é uma bobagem. É moda, vai passar. Criança deve ler tudo, o que tem vontade, o que gosta, mas eu sei que não é bom. O que eu acho que é literatura é uma expressão do autor, da sua alma, das suas crenças, e cria uma coisa nova. Esta literatura com bruxas é artificial, para seguir o modismo. Acho que o Harry Potter fez sucesso e está todo mundo indo atrás.
iG: Então você não gosta de “Harry Potter”?
Ruth Rocha: Não acho errado os livros fazerem sucesso. Eu gosto porque acho que as crianças leem, mas eu não gosto de ler “Harry Potter”, não acho que é literatura.
Ruth Rocha: Não acho errado os livros fazerem sucesso. Eu gosto porque acho que as crianças leem, mas eu não gosto de ler “Harry Potter”, não acho que é literatura.
iG: Qual você acha que é um livro infantil de qualidade?
Ruth Rocha: Eu, na verdade, leio muito mais livros para adultos. Todo mundo acha que eu ainda tenho criança dentro de mim [risos], mas na verdade sou adulta, até velha. Mas o ganhador do Jabuti de 2014 [“Breve História de um Pequeno Amor”, de Marina Colasanti] é uma obra muito bonita.
Ruth Rocha: Eu, na verdade, leio muito mais livros para adultos. Todo mundo acha que eu ainda tenho criança dentro de mim [risos], mas na verdade sou adulta, até velha. Mas o ganhador do Jabuti de 2014 [“Breve História de um Pequeno Amor”, de Marina Colasanti] é uma obra muito bonita.
iG: Como você acha que é a melhor forma de incentivar uma criança a ler?
Ruth Rocha: A criança tem que ser estimulada. Você tem que conversar com a criança, cantar muito com ela, ensinar versinhos, contar histórias desde que nasce. Porque a leitura é um complexo que compreende de ler, escrever, entender. É importante criar a criança para ler bem. Ter vários livro no alcance da criança. Vejo muita gente comprar um celular para a criança, que custa cerca de R$ 1 mil, mas nunca vi um pai gastar R$ 1 mil em livros. Outra coisa muito importante a ler é o evento. A criança passa muito tempo brincando de ser grande. De ser bombeiro, médico... Elas imitam os adultos, então é importante que em uma casa as pessoas leem, que cultivem a cultura. Agora se ela vai ler mesmo, eu não posso garantir [risos]
iG: Os seus livros fizeram a infância de muitas pessoas. Você já ouviu algum tipo de história que te emocionou?Ruth Rocha: A criança tem que ser estimulada. Você tem que conversar com a criança, cantar muito com ela, ensinar versinhos, contar histórias desde que nasce. Porque a leitura é um complexo que compreende de ler, escrever, entender. É importante criar a criança para ler bem. Ter vários livro no alcance da criança. Vejo muita gente comprar um celular para a criança, que custa cerca de R$ 1 mil, mas nunca vi um pai gastar R$ 1 mil em livros. Outra coisa muito importante a ler é o evento. A criança passa muito tempo brincando de ser grande. De ser bombeiro, médico... Elas imitam os adultos, então é importante que em uma casa as pessoas leem, que cultivem a cultura. Agora se ela vai ler mesmo, eu não posso garantir [risos]
Ruth Rocha: Uma vez uma família de negros que disse que sou a autora que mostra negros em suas histórias e isso foi emocionante para mim. Mas já ouvi muita gente que aprendeu a ler com os meus livros, que agora eles mesmos leem para seus netos… Há 50 anos ouço isso e cada vez eu fico mais emocionada.
Fonte:
IG
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