O que significa a desaceleração econômica da China?
A segunda maior economia do mundo registrou em 2015 seu crescimento mais lento em 25 anos. O que isso quer dizer e como isso afeta outros países, inclusive o Brasil? A DW responde a quatro questões-chave.
O que significa dizer que a “economia da China está desacelerando”?
A economia da China continua crescendo, mas apenas num ritmo mais lento. As últimas décadas foram marcadas por um crescimento rápido do Produto Interno Bruto (PIB), muitas vezes de dois dígitos, e muitas pessoas acreditaram que isso iria durar para sempre. O apetite do país por recursos – como matérias-primas e energia – parecia insaciável.
O governo em Pequim estava investindo maciçamente em infraestrutura. Pontes e hidrelétricas foram construídas e, além disso, fábricas chinesas estavam produzindo bens e exportando-os num ritmo muito rápido. Não foi à toa que consumidores de todo o mundo encontravam facilmente a etiqueta “Made in China” por toda parte. A dependência das exportações pode, no entanto, ser insustentável, na medida em que o país fica vulnerável às flutuações da demanda de outros países.
Agora, Pequim quer afastar a economia de sua tradicional dependência das exportações e gastos extravagantes com infraestrutura. Por essa razão, a desaceleração é quase que somente um resultado de fatores internos.
Por que ninguém me alertou sobre isso?
Mark Williams, economista-chefe para a Ásia da consultoria Capital Economics, diz que muitos especialistas e observadores vinham alertando há vários anos que a desaceleração estava próxima, mas as palavras foram ignoradas. Mesmo aqueles que previram essa queda do ritmo de crescimento consideravam que ela seria mais gradual. “A desaceleração talvez tenha chegado um pouco mais rápido do que a maioria das pessoas esperava”, afirmou Williams.
Alguns especialistas também têm dúvidas sobre a veracidade dos dados de crescimento oficial divulgados por Pequim. Muitos analistas veem com cautela a garantia por parte do responsável pelas estatísticas da China de que essas informações econômicas são “verdadeiras e confiáveis”.
Há uma série de coisas que poderiam distorcer os números, desde a pressão política até a velocidade com que os dados são divulgados. A consultoria Capital Economics, por exemplo, estima que a economia da China tenha crescido cerca de 4,5% em 2015 em comparação com o ano anterior. Nesta terça-feira (19/01), Pequim afirmou que o país havia crescido 6,9% – taxa que ainda é o menor nível de crescimento em 25 anos.
Por que a economia da China deveria me importar?
Isso depende da onde você está. Se você vive na China, as implicações de uma desaceleração da atividade econômica são bastante óbvias: os salários não sobem tão rapidamente, e muitos empregados poderiam perder seus empregos. Se você mora num grande país produtor de commodities, como o Brasil, por exemplo, então, muitas empresas próximas a você podem estar passando por um momento difícil, já que as companhias chinesas estão gastando menos no exterior.
A maioria dos países europeus e os EUA não devem ser seriamente atingidos, pelo menos não diretamente, porque suas economias, de qualquer maneira, não estavam exportando muitos produtos para a China. Uma notável exceção é a Alemanha, cujas relações comerciais bilaterais atingiram mais de 150 bilhões de euros em 2014. No entanto, a maior economia europeia parece estar resistindo bem à desaceleração da economia chinesa.
O governo chinês sabe o que está fazendo?
Definitivamente, dúvidas têm sido levantadas sobre a habilidade de Pequim de estabelecer as bases para um crescimento econômico mais sustentável, particularmente após as turbulências do mercado de ações nas últimas semanas.
Depois de os preços das ações terem despencado pela segunda vez em poucos dias no início de janeiro, o diretor do Instituto Mercator de Estudos sobre a China em Berlim, Sebastian Heilmann, afirmou: “A competência do governo chinês para gerir a economia vem levando um duro golpe, particularmente em casa, devido aos crashes do mercado de ações.”
Desde o último verão, Pequim vem tentando acalmar os investidores injetando dinheiro no setor financeiro e impedindo que grandes acionistas vendam suas ações. Mas, até agora, essas medidas não surtiram o efeito desejado.
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