Ao romantizar estupro, Ligações Perigosas incita o crime e endossa ideias retrógradas sobre a mulher
A MORAL SELETIVA DA REDE GLOBO
Paulo Pimenta, em sua página no Facebook
Essa semana a Globo levou ao ar uma cena de estupro na minissérie “Ligações Perigosas”. Ao contrário do que acontece nas ocasiões em que um beijo gay é mostrado nas telas – o que ocorreu pela primeira vez na emissora apenas em 2014 -, a maioria das pessoas não está escandalizada. E por que as pessoas ficam horrorizadas com uma cena de afeto entre homossexuais e não se incomodam com o estupro na TV? Porque têm moral seletiva, assim como a emissora que, com certa frequência, leva o abuso ao ar mas tem muita cautela ao transmitir o amor entre casais do mesmo sexo.
A minissérie é baseada no romance do século XVII “Les liaisons dangereuses”, de Choderlos de Laclos. Na história, Augusto entra no quarto de Cecília, e mesmo com os pedidos da moça para que ele vá embora, insiste em ensiná-la a dar um “beijo de verdade”. Depois do beijo, Cecília ameaça gritar para que Augusto deixe seu quarto. Ele tampa sua boca e inicia o ato sexual não consentido: o estupro. Durante o ato, Cecília é retratada como sentindo prazer.
Além de mostrar uma cena perturbadora de estupro, a Globo ainda tratou de romantizá-la. Apesar de a moça ter deixado claro que não consentia com a relação sexual, a emissora mostra que, no final das contas, ela sentiu prazer. A história original também é assim. Mas, fica a dúvida: por que, então, tantas décadas estudando se ia ou não mostrar um beijo gay e nenhum pudor ao mostrar um estupro? Talvez porque essa cultura patriarcal e do estupro, que viola, mutila e tortura mulheres todos os dias – física e psicologicamente – seja mais aceitável para as famílias tradicionais brasileiras e para a grande mídia do que o amor entre pessoas do mesmo sexo.
Não vamos permitir que esse tipo postura da Globo passe sem críticas. A violência contra a mulher em suas diversas formas é uma realidade latente que vitima todas as brasileiras em algum momento, seja pelo assédio no rua, pela violência doméstica ou pelo estupro. Romantizar isso é uma atitude que incita o crime e endossa todas as ideias profundamente retrógradas que existem sobre a submissão da mulher. Machistas não passarão.
Paulo Pimenta é jornalista e deputado federal pelo PT-RS
Fonte:
http://www.viomundo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário