terça-feira, 19 de janeiro de 2016




JOÃO CALVINO: O SURGIMENTO DE UM NOVO LÍDER



      Com a morte de Ulrico Zuínglio, em 1531, parecia que a reforma suíça havia recebido um golpe fatal. O movimento continuou, sob a hábil liderança de Henrique Bullinger, mas possivelmente teria ficado restrito a algumas partes da Confederação Suíça e da Alemanha, sem causar um impacto mais amplo na Europa e no mundo. Foi então que entrou em cena um novo personagem, cujo brilhantismo intelectual e habilidade diplomática haveriam de dar profundidade teológica e amplitude continental à fé reformada. Esse personagem foi o reformador francês João Calvino.

      Inicialmente, parecia pouco provável que Calvino viesse a se tornar um dos maiores vultos da Reforma Protestante. Nascido em 10 de julho de 1509 na cidadezinha de Noyon, na Picardia (nordeste da França), o menino Jean cresceu em um lar profundamente católico. Seu pai era advogado do clero local e secretário do bispo, posição que lhe permitiu obter para o filho um “benefício eclesiástico”, ou seja, um cargo na estrutura da igreja. Aos catorze anos, Calvino ingressou na antiga e prestigiosa Universidade de Paris, visando preparar-se para o sacerdócio. Estudou a teologia escolástica e as chamadas “humanidades”, isto é, as línguas (especialmente o latim) e a literatura da antiguidade clássica. Por três anos (1528-1531), também se dedicou ao estudo do direito em duas cidades do interior, Orléans e Bourges. Nesta última, teve a oportunidade de aprender grego com o erudito luterano Melchior Wolmar. Toda esse preparação esmerada haveria de ser muito valiosa para o seu futuro trabalho como reformador.

      Regressando a Paris, Calvino dedicou-se à sua grande paixão, os estudos humanísticos, publicando um comentário do tratado Sobre a Clemência, do antigo filósofo estóico Sêneca. Pouco depois, ocorreu o primeiro grande ponto de transição em sua vida – sua conversão à fé evangélica –, sobre a qual existem poucas informações. No fim do mesmo ano (1533), ocorreu um incidente curioso. Nicolau Cop, um amigo de Calvino que acabara de ser eleito reitor da Universidade de Paris, fez um discurso polêmico em que expôs idéias protestantes e pediu reformas. As reações foram intensas e os dois amigos tiveram de fugir para salvar a vida. Calvino encontrou abrigo na casa de um amigo em Angoulême, onde começou a escrever a obra notável que o tornaria conhecido em toda a Europa.

      Enquanto isso, crescia assustadoramente a repressão estatal contra os protestantes franceses. Calvino retornou brevemente à sua cidade natal em maio de 1534, a fim de renunciar ao seu benefício eclesiástico, e em janeiro do ano seguinte deixou a França, indo residir em Basiléia, na Suíça. Foi ali que ele teve a oportunidade de concluir as Institutas da Religião Cristã, publicando-as em março de 1536. Tinham como prefácio uma carta ao rei Francisco I, suplicando tolerância em favor dos evangélicos perseguidos. Com essa obra, Calvino foi reconhecido imediatamente com o principal líder e porta-voz do protestantismo francês. Poucos meses depois ocorreria o segundo grande momento de transição na vida do jovem reformador, que teve conseqüências ainda mais dramáticas e profundas.

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