O grilo
Numa noite clara, de Lua redonda como um queijo branco no prato do céu, do meio do mato uma voz ouvi, que falava sempre: CRI… CRI… CRI…
Vestido de noite, perdido no escuro, parado num canto que não descobri, seu corpo comprido, de inseto elegante, confesso não vi…
Só ouvi seu canto na perdida sombra: CRI… CRI… CRI…
Estava sozinho, sem algum amigo com quem conversasse; então decidi:
“Com o grilo alegre vou travar conversa”.
– Ei, grilo, não temas, que eu não sou de briga! Creste no que eu disse?
… e o grilo, do escuro, respondeu na hora, como se entendesse: CRI… CRI… CRI…
Fiquei muito alegre, ele me entendia e me respondia com satisfação…
Pus-me a contar fatos que o deixaram quieto, prestando atenção: “Uma vez, amigo, veio ao mundo um homem muito meigo e puro perdoando a todos, libertando escravos, saciando pobres e curando enfermos; homem tão bondoso como igual não vi…”
– Creste no que eu disse? …Respondeu-me o grilo, como se entendesse: CRI… CRI… CRI…
“…Pois o tal profeta (Ele era profeta), como fosse humano, dedicado e amigo, recebeu dos homens o pior castigo que já conheci: numa cruz pesada foi crucificado, suas mãos sangraram, rasgadas, feridas, sua fronte clara foi lavada em sangue, padeceu torturas como nunca vi…”
– Creste no que eu disse? …Respondeu-me o grilo, como se entendesse: CRI… CRI… CRI…
“…Mas, um dia, um belo dia de domingo, Esse homem puro, que nenhum pecado no mundo provou, rompeu as cadeias da morte gelada, e ressuscitou…
Seu corpo, na pedra do escuro sepulcro, ninguém mais achou… o nome bendito do Ser soberano da glória e da luz, soa como um hino, às vezes humano, às vezes divino, o nome é … JESUS…
Esse doce amigo que sofreu assim padeceu castigo e morte por mim.
Para ser sincero, devo confessar: Ele foi ferido para me salvar…”
– Bem, já se faz tarde, vou dormir, amigo, boa-noite, Grilo…
Mas, ó companheiro, tu creste de fato no que eu disse aqui?
… Respondeu-me o grilo, como se entendesse: CRI, CRI, CRI, CRI, CRI!!!
Dom Alexandre Ximenes
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