segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


ESCRAVOS DE CRISTO - Por John MacArthur


Escravos de Cristo (Rm 1.1)


jesus cristo servo de deus
por John MacArthur
Tradução: Thiago Mancini  


     Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.” (Rm 1.1)
“παυλος δουλος ιησου χριστου κλητος αποστολος αφωρισµενος εις ευαγγελιον   θεου.”
“PAULOS DOULOS CRISTOU IESOU KLETOS APOSTOLOS APHORISMENOS EIS EUANGELION THEOUS.”    

     Agora, você poderia verificar todos os Léxicos de Grego existentes e ainda assim você não vai encontrar nenhum outro uso da palavra “doulos” que não seja com o significado de  “escravo”.
     O que é notável sobre isto é que a palavra “doulos”  é utilizada aproximadamente  150 vezes no Novo Testamento em uma ou em outra forma: cerca de 130 vezes no Novo Testamento a palavra “doulos” é utilizada na sua forma básica; e em seguida, a palavra “doulos” na sua forma verbal douloo, que também significa escravo, sempre significa escravo, somente significa escravo.
     Das cerca de 20 traduções do Novo testamento para o inglês, apenas uma tradução sempre traduz a palavra “doulos” por escravo; enquanto que as outras 19 traduções se equivocam em não fazerem isto.
     Muitas traduções até inventam uma palavra com hífen para a qual não existe nem mesmo um paralelo na língua grega, como por exemplo, a palavra “bondservant”.[1]
     Há somente duas opções no idioma grego... servo ou escravo. Não há meio termo. Não existe um conceito intermediário para a palavra “doulos”. [2]
     A única tradução do Novo Testamento que sempre traduz a palavra grega “doulos” por escravo é a tradução “Goodspeed”. [3]
     De 1923 até 1937, Edgar Johnson Goodspeed foi professor de Grego na Universidade de Chicago. Goodspeed foi um reconhecido gênio do Grego, pioneiro na lexicografia da língua Grega.
     E muito provavelmente você está um pouco familiarizado com a tradução de Goodspeed, muito embora esta tradução seja um pouco obscura. Mas embora seja obscura, a tradução de Goodspeed tem a integridade de permanecer com o significado da palavra grega “doulos” em todos os lugares em que “doulos” aparece no Novo Testamento.
     Existem alguns volumes de Léxicos da língua Grega que já estão na minha prateleira há um bom tempo chamados Kittel, você já ouviu sobre isto? K – i – t – t – e – l, é a última palavra, a palavra consumada, mais do que você necessita saber ou se importa em saber sobre cada palavra grega.
     Cada palavra grega tem um artigo, e o artigo vai para a página e para a página depois de página, depois de página, até preencher uma quantidade enorme de espaço, lidando apenas com as palavras gregas no Novo Testamento.
     No artigo sobre a palavra grega “doulos”, isto é o que está escrito no Léxico Kittel da Língua Grega: “Não há nenhuma necessidade de traçar a história da palavra doulos, não há nenhuma necessidade de discutir o significado da palavra doulos, simplesmente por que a palavra doulos não tem nenhum outro significado  que não seja escravo e não é utilizada para absolutamente mais nada que não seja escravo.”
     Isto é muito raro em um tipo de lexicografia tão vasta quanto no Léxico Kittel da Língua Grega, justamente por que um Léxico da Língua Grega vai dar a você todas as possíveis nuances e todas as possíveis traduções no Grego Clássico ou no Grego Koiné, ou em qualquer outro uso bíblico e não – bíblico.
     Este é o significado universal da palavra grega “doulos”, e é a palavra que descreve de modo mais exclusivo o relacionamento entre o cristão e Cristo.
     Na verdade, para pressionar a questão um pouco mais, a palavra grega “doulos” tem uma palavra companheira, uma palavra companheira tão necessária, que sem a qual a palavra grega “doulos” não faz nenhum sentido; e a palavra companheira é a palavra “kurios”.
     A palavra grega “kurios” significa Senhor.
     Não existe tal coisa como um Senhor ou um Mestre sem um escravo.
     Então, este é o paradigma dominante no qual nós devemos entender o nosso relacionamento com Jesus Cristo.
     Jesus Cristo é Senhor, e nós (os cristãos) , somos os Seus escravos.
     Não existe outra maneira de ser fiel ao texto bíblico, do que esta.
     E então, você pode estar dizendo para si mesmo as seguintes palavras: “Por que alguns tradutores mudam esta palavra? Por que alguns tradutores mudam esta palavra? Alguns tradutores mudam a tradução da palavra doulos no texto bíblico, por que fazendo assim, eles estão obscurecendo a claridade deste paradigma dominante no Novo Testamento de que Jesus Cristo é Senhor, e nós (os cristãos) , somos os Seus escravos.”
     E a resposta, historicamente eu suponho, é que por causa do estigma que cerca a escravidão e o desejo de atenuar isto seja por causa dos abusos e todos estes tipos de coisas, eles roubaram da Igreja Evangélica e de todos nós cristãos de Língua Inglesa e de todos os cristãos do Mundo e em suas Línguas na Bíblia seguiram o exemplo; e isto é muito simples, muito claro, muito dominante e muito definido o entendimento do relacionamento do cristão com o Senhor.
     Eu não posso dizer a você precisamente, quantas vezes através dos anos, e dos livros que eu tenho escrito e das mensagens que eu tenho pregado defendendo o senhorio de Jesus Cristo.
     Há uma controvérsia sobre o Senhorio. A controvérsia sobre o senhorio não deveria existir se o significado da palavra grega “doulos” no Novo Testamento fosse corretamente  entendida.

     Se nós somos escravos, então não há necessidade de dizer que Jesus Cristo é o Senhor, e dizer que Jesus Cristo é o Senhor significa que Jesus Cristo tem soberania e controle dominante sobre nós.
     E ainda assim, quando você vai para o Novo Testamento em qualquer uma das versões em Inglês, você somente vai encontrar a palavra escravo traduzida por escravo quando esta palavra fizer referência à escravo... um escravo – escravo, ou quando fizer referência à um tipo inanimado de escravidão, escravidão da justiça, escravidão do pecado, e todo este tipo de coisa.
     Mas quando é utilizada para se referir ao cristão, ao invés de ser traduzida por escravo a palavra grega “doulos” é traduzida por servo ou por bondservant (ver nota 1 do tradutor) , se afastando desta forma da claridade da definição de um cristão como escravo.
     Agora, há um par de lugares no Novo testamento aonde não se pode fugir disto..., como, por exemplo, na Epístola do apóstolo Paulo aos Efésios, capítulo 6 e versículo 5, aonde vocês vãos lembrar disto:
     Vós, servos, obedecei a vossos senhores segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo.” (Ef 6.5)  – (ACF).
     Escravos, obedeçam a seus senhores terrenos com respeito e temor, com sinceridade de coração, como a Cristo.” (Ef 6.5)  – (NVI).
     Agora, o apóstolo Paulo está falando de como os escravos devem se portar e se comportar para com os seus senhores, de modo que aos escravos devemos chamar de escravos, e aos senhores devemos chamar de senhores.
     Aonde quer que tenha um mestre ou um senhor, também haverá escravos por que estas duas palavras, senhor e escravo, sempre vão juntas e não podem ser separadas.
     E então, tendo estabelecido isto, o próximo versículo diz que o escravo não deve trabalhar apenas para agradar à vista de seu senhor, mas sim como escravo de Cristo.
     “Não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus.” (Ef 6.6)  – (ACF).
     “Obedeçam – lhes não apenas para agradá – los quando eles os observam, mas como escravos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus.” (Ef 6.6)  – (NVI).
     E a razão pela qual temos a palavra grega “doulos” traduzida como escravo é por que a metáfora demanda isto e por que está conectada com o quê acaba de ser dito sobre um escravo de verdade.
     Além disto, há uma grande relutância em utilizar a palavra escravo. Eu acho que algumas vezes nós poderíamos entender isto. Alguns meses atrás quando eu estava começando a pensar sobre estas coisas, eu estava na Conferência de Pastores em Wake Forest, e na verdade estávamos em um estádio de futebol lá, e eles tinham uma sala do clube de futebol do estádio cheia com 400 pastores, a estação de rádio cristã local estava lá e nós estávamos tendo o almoço e eu estava fazendo algumas perguntas e respostas e um pastor negro muito bem arrumado parou em frente de mim e disse assim: “Como é que eu vou dizer para as minhas ovelhas que a metáfora dominante para o nosso relacionamento com Cristo no Novo Testamento é a palavra escravo?”. E ele disse: “Isto é preocupante com tanto estigma da nossa história.”
     Eu disse o seguinte: “Agora, você apontou o dedo para a verdadeira questão aqui. Mas o fator mais importante aqui são duas coisas, uma, nós temos que permitir que Deus diga o que Deus disse. Nós temos que ser fiéis à intenção do texto e da revelação. E em segundo lugar, nós temos que entender que este tipo de escravidão não é como o tipo abusivo de escravidão que você encontra neste mundo irregenerado.”
     Agora deveria ser dito que a Bíblia nunca condenou a escravidão, nunca. E se Jesus Cristo e os Apóstolos vieram para abolir a escravidão, então eles falharam miseravelmente. Eles não vieram para fazer isto. A Bíblia nunca tolerou a escravidão, a Bíblia simplesmente reconhece que a escravidão existe.
     E isto só acontece de ser a melhor forma de descrever o relacionamento do cristão com Cristo e justamente por isto se torna este paradigma dominante.
     Se você acha que isto é um problema, se você acha que isto é um problema pra nós  com uma memória distante do que foi a escravidão, se você pensa que isto é um problema para nós, pois então pense o problema que era nos tempos do Novo Testamento.
     Há cerca de 12 milhões de escravos vivendo no mundo Mediterrâneo. Para qualquer grego livre, ou para qualquer romano livre, a escravidão era vista com desdém. Era uma forma desprezível de viver. A suprema virtude para um Grego ou para um Romano era a liberdade... liberdade. Eles desprezavam a escravidão. 
     Por quê? Escravos não tem liberdade. Escravos não tem direitos. Escravos não podem defender a si mesmos em um tribunal de justiça, nem podem ir à um tribunal de justiça em busca de justiça. Escravos não podem dar testemunho em um tribunal de justiça. Escravos não podem ser cidadãos. Escravos não podem entrar para o exército. Escravos não podem ter propriedades.
     E na religião pagã, nenhum seguidor de qualquer deidade ou divindade jamais chamou a si mesmo de escravo de Deus. Os Gregos se referiam ao seu relacionamento com Deus com a palavra grega “philos”[4 ], e não com a palavra grega “doulos”. A palavra grega “philos” significa amigo. Os gregos entendiam que eram amigos de Deus.
     A idéia de ser escravo de qualquer pessoa, mesmo que fosse escravo de uma divindade era completamente desprezível no mundo Grego.
     Então, aqui há outro componente sobre o qual o apóstolo Paulo fala em I Coríntios, a loucura da cruz... a pedra de tropeço para a mente grega.
     Nós estamos tentando transmitir o evangelho de um judeu crucificado que quer fazer de você seu escravo. Talvez não poderia haver uma mensagem mais difícil de ser comunicada às pessoas que honram tanto a liberdade e que não tem outro sentimento que não seja o desdém e o desprezo pela escravidão, que um judeu crucificado quer fazer dos homens os seus cravos.
     E ainda assim, é neste exato tipo de meio – ambiente... que eu vou dar a você uma corrida rápida pela Bíblia. Eu trouxe hoje a minha maior Bíblia para que eu pudesse ver o que é que eu estava lendo, por que eu estava tendo um momento difícil na noite passada.
  

     Escute isto. Romanos 1.1: 


 “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.”
     Ou seja, em Rm 1.1 está Cristo que Paulo fora chamado para ser servo de Cristo, mas não há esta palavra no Grego.
     E este é o ponto de lançamento: “Paulo, escravo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.” (Rm 1.1).
     Ou seja, não é Paulo um apóstolo e um pregador, e acidentalmente também um escravo; mas é Paulo, escravo...
     Na epístola que escreve aos Gálatas, no capítulo 1 e no versículo 10, o apóstolo Paulo escreve que ao invés de procurar agradar aos homens, procura agradar a Deus:
     Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1.10).
     Agora, você está chegando ao coração da escravidão, certo? Não se trata de buscar agradar os homens, se trata de procurar o favor de Deus:Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1.10).
     Por que? Por que um princípio da escravidão todos entendem. Jesus coloca isto desta maneira, dizendo no Sermão do Monte que nenhum homem pode ser escravo de sois senhores ao mesmo tempo, por que ser escravo de sois senhores ao mesmo tempo é uma impossibilidade:
     “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro.” (Mt 6.24a).
     O apóstolo Paulo escreve que ao invés de procurar agradar aos homens o cristão procura agradar a Deus:


     Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1.10).
     Na epístola aos Filipenses, o apóstolo Paulo identifica a si mesmo desta maneira, apenas com sua companhia:
     “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Cristo Jesus, que estão em Filipos, com os bispos e diáconos.” (Fp 1.1).
     Epafras, é citado em Cl 4.12 como “doulos” de Cristo:
     “Saúda – vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus.” (Cl 4.12).

     O apóstolo Tiago, identifica a si mesmo como “doulos” de Cristo:
     “ Tiago, servo de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que andam dispersas, saúde.” (Tg 1.1).
     O apóstolo Pedro, identifica a si mesmo como “doulos” de Cristo:
     “ Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo.”  (II Pe 1.1).
     Judas, identifica a si mesmo como “doulos” de Cristo:
     “ Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago, aos chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo.” (Jd 1.1).
     Para esticar este assunto um pouco mais, o livro de Apocalipse... me permita dar a você... me permita ir através deste caminho e ver se eu posso lembrar todas estas coisas.
     “Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo.” (Ap 1.1).
     Ou seja, através destes versículos fica claro que o apóstolo Paulo é um “doulos” (escravo) de Cristo, Timóteo é um “doulos” (escravo)  de Cristo, Epafras é um “doulos” (escravo)  de Cristo, Tiago é um “doulos” (escravo)  de Cristo, Judas é um “doulos” (escravo)  de Cristo, Pedro é um “doulos” (escravo)  de Cristo e João também é um “doulos” (escravo)  de Cristo.
     Vocês entendem isto, certo?
     Todos estes homens sabiam isto. Eles sabiam que eram escravos e sabiam exatamente o que é que a escravidão significa. Eles viviam em mundo de escravidão. Não havia a menor sombra de dúvidas sobre isto. Não era uma memória distante como é para nós. E é carregado de abusos ao menos iguais aos tipos de abusos que são conhecidos por nós no mundo moderno.
     Mas, um pouco mais adiante no livro de Apocalipse, apenas para ampliá-lo um pouco mais, no capítulo 7:
     “Dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que hajamos selado nas suas testas os servos do nosso Deus.” (Ap 7.3).
     Nas promessas futuras de Deus, vai haver um tempo de uma grande e horrível tribulação, mas vai haver também um tempo de grande proclamação do Evangelho e Deus vai utilizar os 144 mil judeus convertidos para levar o Evangelho até os confins da Terra. Estes são chamados “doulos” (escravos)  do nosso Deus (cf.: Ap. 7.1-8).
     Então, no passado, aqueles que pertenciam a Cristo eram escravos. E no futuro, aqueles que pertencerem a Cristo, também serão escravos. A escravidão a Cristo, é então, uma designação permanente.
     O décimo capítulo do livro de Apocalipse: 


Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando tocar a sua trombeta, se cumprirá o segredo de Deus, como anunciou aos profetas, seus servos.” (Ap 10.7).
     Ou seja, olhando para trás, os profetas eram “doulos” (escravos) , os Apóstolos eram “doulos” (escravos). E olhando adiante, os pregadores do período da tribulação que há de vir também vão ser “doulos” (escravos).
     O capítulo 19, o capítulo 19 do livro de Apocalipse tem um par de usos da palavra grega “doulos”.
    

 O versículo 2 diz que no futuro, quando o Senhor vier em poder, é claro, os julgamentos do Senhor serão verdadeiros e justos, tanto que irá julgar a grande prostituta que corrompera a terra com imoralidade, e irá vingar o sangue de seus doulos (escravos) :
     “Porque verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua fornicação, e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos.” (Ap 19.2).
     O versículo 5 afirma que os doulos (escravos)  devem louvar ao Senhor Deus:
     “E saiu uma voz do trono, que dizia: Louvai o nosso Deus, vós, todos os seus servos, e vós que o temeis, assim pequenos como grandes.” (Ap 19.5).
     O capítulo 22 do livro de Apocalipse no versículo 3, descreve o rio da vida como uma figura do céu, e afirma que não haverá mais maldição, por que aí está o trono de Deus e do Cordeiro, aonde os doulos (escravos)  estão servindo a Deus:
     “E ali nunca mais haverá maldição contra alguém; e nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão.” (Ap 22.3).
     Escravos no passado, escravos no presente, escravos no futuro, nós somos inevitavelmente e sempre seremos escravos.

     Isto é tão definidor para mim compreender o papel que eu tenho, de submeter a mim mesmo ao Senhor.
     Agora, quais são os componentes de ser um escravo? Basta desenhá-los para você por um ou dois minutos. Escravos eram comprados.
     No Novo Testamento há seis ou sete palavras gregas para “servo”, talvez sete palavra se incluirmos a palavra grega “misthios”, mas ao menos seis palavras: “huperetes”, “diakonos”, “pais”, e outras palavras como estas, todas estas se referem a servo.
     Há palavras derivadas para servo. O servo é alguém que desempenha uma função por um ordenado e está livre para sair. Mas o escravo é diferente. Um escravo é comprado e pertencente à esta distinção de ser um escravo. Isto se encaixa aqui perfeitamente, não encaixa?
     O apóstolo Pedro diz que os eleitos não foram resgatados com coisas corruptíveis como prata ou ouro, mas com o precioso sangue de Cristo:
     “Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais.” (I Pe 1.18).
     No livro de Atos, capítulo 20, o apóstolo Paulo diz que a Igreja de Deus foi comprada com o sangue de Cristo:
     “Olhai, pois, por vós, e por todo o rebanho sobre que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue.” (At 20.28).
     Esta é a linguagem de escravidão. Nós fomos comprados. Você não pertence a si mesmo, você foi comprado por um preço, você foi comprado. Esta é uma linguagem de escravidão.
     O segundo elemento de ser um escravo, e consequente do primeiro elemento que é ser comprado, é que o escravo é possuído... o escravo está sujeito à vontade alheia.
     Se você procurar por qualquer definição do que é ser escravo em qualquer dicionário que seja, haveria esta indicação de que um escravo não funciona em sua própria vontade. Em todo o tempo, o escravo está sujeito à vontade alheia.
     E isto significa que o escravo não possui liberdade para fazer aquilo que deseja fazer. O escravo é possuído por que foi comprado.
     O terceiro elemento de ser um escravo é que o escravo é obrigado, portanto, a ser submisso e obediente. E absolutamente nada poderia definir o relacionamento do cristão com o Senhor mais claramente do que a escravidão.
     O que foi que Jesus disse na grande comissão?
     Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando – os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
     Ensinando – os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém.” (Mt 28.19 – 20).
     Ou seja, isto é sobre rendição. Isto não é sobre: “Deus entrar na minha vida e realizar todos os meus sonhos!”.
     Esta não é a linguagem do Novo Testamento. A linguagem do Novo Testamento é  Lc 9.23: 
“E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue – se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga – me.” Ou seja, este é o fim de você mesmo, praticamente.
     Isto, por sinal, no Grego significa se recusar a associar – se com alguém ou com algo. É vir a Cristo e dizer assim: “Eu me recuso a associar – me com a pessoa que eu sou, eu abandono a mim mesmo!”.
     E Jesus expande este conceito no Evangelho dizendo que aquele que além de aborrecer a própria vida também não aborrecer pai, mãe e cônjuge não pode ser discípulo de Cristo, ou seja, não pode ser cristão:
     “Ora, ia com ele uma grande multidão; e, voltando – se, disse – lhe:
     Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
     E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14.25 – 27).
     Este é o cristianismo e a pessoa que quer se tornar cristã deve primeiro calcular os custos, como um comandante que antes de ir à guerra, primeiro tem que fazer uma triagem dos soldados para saber se há condições de completar o trabalho.
     “Pois qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a fazer as contas dos gastos, para ver se tem com que a acabar?
     Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a virem comecem a escarnecer dele, Dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde acabar.
     Ou qual é o rei que, indo à guerra a pelejar contra outro rei, não se assenta primeiro a tomar conselho sobre se com dez mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
     De outra maneira, estando o outro ainda longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.” (Lc 14.28 – 32).
     E qual é o custo de ser cristão? O custo de ser cristão é que ser cristão custa tudo, custa negar a si mesmo e custa aborrecer a si mesmo, o que significa o fim de você mesmo:
     “Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo.” (Lc 14.33).
     Vir a Cristo não significa que Deus torna você um escravo, faz de você Seu escravo. E então, você diz: “Eu estou disposto a negar a mim mesmo!”, este é o obstáculo que torna o Evangelho tão difícil por que vai na direção contrária da natureza do coração irregenerado, certo?
     Nós investimos todo o nosso tempo na edificação de nós mesmos; e então, o Evangelho vem e diz assim: “Morra... morra, abandone tudo, se renda completamente, desista de todas as suas ambições e de todas a sua liberdade para que você não tenha mais nenhuma ambição na vida, a não ser agradar a Deus.” Certo?
     Em II Coríntios 5.9 nós temos que a nossa ambição não deve ser outra se não agradar a Deus: 


Pois que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes.” (II Co 5.9). É isto!
     Você nega a si mesmo, toma a sua cruz, o que significa que é uma negação de si mesmo até o fim da vida. É uma negação total, mesmo se esta negação lhe custar a sua vida ao seguir a Cristo.
     E isto é repetido tanto no Evangelho Segundo Mateus quanto no Evangelho Segundo Lucas.
     “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim,   renuncie – se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga – me.” (Mt 16.24).
     “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue – se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga – me.” (Lc 9.23).
     Ou seja, se qualquer homem deseja ir a Cristo, este homem deve negar a si mesmo, deve se recusar a se associar com a pessoa que ele próprio é e deve tomar a sua cruz; e aqui, a cruz não é algum tipo de coisa mística, e não é a sua sogra, não é a sua esposa e nem o seu patrão; a cruz para estas pessoas significa execução.
     Então, a figura aqui é que você dá a si mesmo, até o ponto da morte se for necessário, e você assim, segue a Cristo. Esta é a figura da escravidão e do relacionamento do cristão com Deus pintada no Novo Testamento. Nós vivemos em completa submissão e obediência a Cristo.
     Isto é exatamente o que significa quando você escuta o apóstolo Paulo dizer que, se você confessar a Jesus Cristo como Senhor (veja Romanos 10.9 – 10) , e acreditar no seu coração que Deus ressuscitou a Jesus dentre os mortos, então você seria... o quê?... salvo.
     “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
     Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação.” (Rm 10.9 – 10).     
     Mas confessar a Jesus como Senhor é quase que exatamente o mesmo que confessar a você mesmo como escravo... escravo.
     A vida cristã é muito simples para mim em termos de conceito. Eu não tenho nenhum desejo de me achegar a Deus através dos meus próprios meios, eu apenas quero ser um escravo fiel. Eu quero ser aquela pessoa da parábola para quem Jesus disse: 


“Muito bem feito, meu escravo bom e fiel!”. [ver a Parábola dos Talento em Mt 25.14 – 30, destaque para Mt 25. 21]
     Agora, um par de coisas para pensar também no lado mais positivo de tudo isto, embora todos os lados disto sejam positivos.
     Um escravo era comprado, era possuído, era submisso, era obediente e era também dependente. Um escravo não tem um lugar para viver, não tem comida para se alimentar e não possui roupas para vestir que não sejam providenciadas por seu senhor.
     “O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus.” (Fp 4.19).
     
     Deus é generoso em derramar graça sobre nós, não é? Deus nos chama ao seu trono de misericórdia em tempos de necessidade, e promete satisfazer todas as necessidades que temos. Nós não temos mais nenhum lugar para ir. Nós só temos um Senhor. Nós somos totalmente dependentes deste Senhor para todas as nossas provisões.
     E o segundo elemento do lado positivo é a proteção. Um escravo não somente tem a provisão do seu senhor; e um senhor bom, gentil, amável e generoso e compassivo tonaria a vida de seu escravo a melhor vida possível.
     Ser escravo do senhor certo seria melhor do que qualquer coisa, por que todas as necessidades do escravo seriam supridas com amor e com compaixão e com generosidade e com proteção.
     Escute, viver em um mundo assim tão difícil, como viver no mundo selvagem dos dias antigos, aonde é cada um por si, a pessoa necessitava ser protegida. E se a pessoa tivesse o tipo certo de senhor, o senhor era o protetor da pessoa. E certamente, isto define a relação do cristão com o Senhor não define?
     Eu nunca vou te deixar nem te abandonar, eu vou te guardar, eu vou prestar atenção em você. É isto o que a Bíblia fala sobre o modo como um bom pastor cuida das ovelhas. O nosso Senhor provê tudo o que nós temos. Nós não temos nada que o Senhor não tenha providenciado e o Senhor nos protege e promete nos proteger e um dia nos levar à glória.
     Status? Como um escravo poderia ter status? Somente de uma maneira. O único status de um escravo vinha do senhor a quem o escravo servia. Por exemplo, se você fosse um escravo da Casa de César você estaria no topo do ranking dos escravos por causa de quem era o seu senhor.
     Isto é exatamente o que o apóstolo Paulo não hesita em dizer:Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus.” (Rm 1.1). Por que ele recebe a glória refletida de seu senhor mais honroso.
     Eu espero que nós estejamos entusiasmados para sermos capazes de dizer que eu sou um escravo de Jesus Cristo. Ele é o melhor Senhor. E antes de você pensar qualquer coisa negativa a respeito disto, apenas se lembre disto. Ele é o Senhor que ama perfeitamente aos Seus escravos. Ele é um Senhor que procura o melhor para os Seus escravos. Ele é um Senhor que torna os Seus escravos em filhos e lhes dá a completa herança fazendo deles herdeiros com Jesus Cristo de tudo o que lhe pertence.
     
     E então, levar os Seus escravos fazendo deles filhos e herdeiros e os fazendo assentar em Seu próprio trono em eterna glória para reinar com Ele. E então, o Senhor derramará sobre os Seus escravos todos os dons da Sua graça eterna para sempre e sempre.
     Eu posso aceitar este tipo de Senhor. Eu posso viver com este tipo de relacionamento. Mas eu realmente acredito que esta é a pedra angular de tudo isto ainda há muito mais a ser dito sobre o assunto, é o que o pastor sempre diz quando está ficando sem assunto. “Irmãos, nós poderíamos continuar e continuar.”, é por que ele já não tem mais pensamentos e não tem mais esboço, nada. “Oh, o tempo se foi!”...
     De qualquer forma, escute Filipenses 2, eu amo este texto. Para que você não ache que, de alguma forma, é humilhante ouvir isto.
     De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou – se a si mesmo, tomando a forma de servo.” (Fp 2.5 – 7a).
     Isto é bom o suficiente para Ele, isto é bom o suficiente para mim.
     E o que Jesus disse? 


“Eu faço somente o que o Pai me mostra para fazer. Eu só faço o que o Pai me fala para fazer. Eu somente faço que o Pai deseja que eu faça.”
     E no Jardim, na crise do momento do Jardim, ... as pessoas dizem, “Por que Jesus não disse... por que disse para passar de Si este cálice, por que Jesus disse para passar de Si o cálice?”.
     Esta pode ser a maior evidência da perfeita santidade de Cristo em todas as páginas da Escritura. Isto é o que uma pessoa perfeitamente santa tem a dizer. Uma pessoa perfeitamente santa tem repulsa pelo pensamento de suportar pecados. Qualquer coisa a menos do que isto e você poderia colocar em cheque a santidade de Cristo. esta é a única resposta possível.
     Mas mesmo no meio disto tudo, o que é que Jesus diz? “Não seja feita a minha vontade mas a Tua.” [ver Mt 26.39]
     Ele não tomou a forma de um servo, qualquer que ela seja, mas sim de um escravo e tornando-se em semelhança de homens, achado na forma de homem, humilhou – se a Si mesmo sendo obediente [ver Fp 2.5 – 8]
     Isto é o que um escravo faz. O escravo humilha a si mesmo, e se torna obediente até o ponto de... quê?... até o ponto da morte. E nós estamos bem de volta à Lucas 9, mesmo à morte na cruz.
     Ele é o modelo vivo de negar a si mesmo, tomando a cruz e seguindo a vontade de Deus. O modelo perfeito do perfeito escravo. E o que foi Dele em retorno?
     “Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome;
     Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra,
     E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.9 – 11).
     E o nome que Deus deu ao servo [escravo], não é Jesus que é o nome sobre todo nome, por que muitas pessoas tem este nome. O nome sobre todo nome é o nome do Senhor. Ele é o escravo que se tornou Senhor. E nós somos os escravos que um dia vão ser levantados para compartilhar o Seu trono.
     Como você lê o Novo Testamento de agora em diante, você pode ficar um pouco frustrado toda ver que você ver a palavra “servo”. Mas eu espero que isto abra o seu entendimento desta rica verdade.
 
 
Pai, nós te agradecemos pela Tua Palavra. É uma alegria tão grande para os nossos corações e um tesouro tão rico para as nossas almas. Nós oramos, Senhor, e como nós pensamos sobre estas coisas nós nos alegramos no fato de que antes do Mundo começar, antes da fundação do Mundo, o Senhor determinou enviar o Seu amor sobre nós. Nos faça seus escravos e nos levante à filhos que vão compartilhar o Seu Trono eterno. Que privilégio. Nós te agradecemos por este privilégio e pedimos que nos faça fiéis para um dia poder ouvir do Senhor, “Muito bom, escravo bom e fiel!”, amém.

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