sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O sonho de Stott


 




 

O sonho de Stott


O texto escrito e lido por John Stott* no aniversário de 150 anos da All Souls Church, 
a igreja de Stott na Inglaterra.


Sonho com uma Igreja Viva
Sonho com uma igreja que seja uma igreja bíblica – que seja leal em cada detalhe à revelação de Deus na Escritura, cujos pastores expõem a Escritura com integridade e relevância, e assim procuram apresentar cada membro maduro em Cristo, cujo povo ama a palavra de Deus, e a adornam com uma vida obediente e semelhante a Cristo, que seja preservada de todas as ênfases não bíblicas, cuja vida inteira manifeste a saúde e beleza do equilíbrio bíblico.
Sonho com uma igreja bíblica.
Sonho com uma igreja que seja uma igreja adoradora – cujo povo se reúna para se encontrar com Deus e adorá-lo, que sabe que Deus sempre está no meio deles e que se curva diante dele em grande humildade, que frequente regularmente a mesa do Senhor Jesus, para celebrar seu poderoso ato de redenção na cruz, que enriqueça o culto com suas habilidades musicais, que creia na oração e se apegue a Deus em oração, cuja adoração seja expressa não só nos cultos de domingo e nas reuniões de oração, mas também em suas casas, no trabalho durante a semana e nas coisas comuns da vida.
Sonho com uma igreja adoradora.
Sonho com uma igreja que seja uma igreja acolhedora – cuja congregação seja formada de muitas raças, nações, idades e origens sociais, e manifeste a unidade e diversidade da família de Deus, cuja comunhão seja calorosa e receptiva, jamais manchada por ira, egoísmo, ciúmes ou orgulho, cujos membros amem com fervor uns aos outros com coração puro, suportando uns aos outros, perdoando uns aos outros e levando as cargas uns dos outros, que ofereça amizade aos solitários, apoio aos fracos e aceitação aos que são desprezados e rejeitados pela sociedade, cujo amor derrame sobre o mundo exterior o amor atraente, contagioso e irresistível do próprio Deus.
Sonho com uma igreja acolhedora.
Sonho com uma igreja que seja uma igreja que sirva – que veja Cristo como o Servo e ouça seu chamado para ser também serva, que seja liberta do interesse próprio, virada do avesso e se dê de modo altruísta ao serviço dos outros, cujos membros obedeçam ao mandamento de Cristo de viver no mundo, permear a sociedade secular, ser o sal da terra e a luz do mundo, cujo povo compartilhe as boas-novas de Jesus simplesmente, naturalmente e entusiasticamente com seus amigos, que sirva com diligência à própria paróquia, bem como aos residentes e trabalhadores, famílias e solteiros, nacionais e imigrantes, idosos e criancinhas, que esteja alerta às necessidades em mudança da sociedade, sensível e flexível o bastante para continuar adaptando seu programa para ser mais útil no serviço, que possua uma visão global e esteja constantemente desafiando seus jovens a entregar a vida ao serviço e constantemente enviando seu povo para servir.
Sonho com uma igreja que sirva.
Sonho com uma igreja que seja uma igreja que espera – cujos membros nunca consigam sossegar na afluência material ou conforto, porque lembram que são estrangeiros e peregrinos sobre a terra, que seja ainda mais fiel e ativa porque está esperando e ansiando a volta do seu Senhor, que mantenha acesa a chama da esperança cristã num mundo escuro e desesperador, que no dia de Cristo não vai se esconder dele envergonhada, mas levantar-se exultante para recebê-lo.
Sonho com uma igreja que espera.

Carta a Rubem Alves

Carta a Rubem Alves

Rubem Alves 2


"As certezas andam sempre de mãos dadas com as fogueiras...” [Rubem Alves].
Ah, querido Rubem, se você ainda estivesse entre nós, certamente notaria como essa sua assertiva, escrita há algumas décadas, continua sendo tão atual, infelizmente. Lembrando nosso amigo Voltaire, parece que continuamos nos dilacerando "por causa de alguns parágrafos", sendo piores que os tigres, que dilaceram senão para comer. Mas, sabe: o problema, talvez e muito ‘talvezmente’, não seja nutrir determinadas certezas, se me permite uma leve variação de ponto de vista, pois existem convicções (ideológicas, de fé e vida) que, para nós, são tão caras que arriscamos tomá-las como "certezas". Então, não sei, caro mestre, se "todas" as espécies de certezas conduzem a fogueiras - talvez a maioria delas, sim. É que teimosa e relutantemente ainda acredito na profundidade de certos valores (não consigo transvalorá-los todos, como pretendeu nosso outro bom amigo, Nietzsche), como o amor, por exemplo. Mas será que o amor pode ser chamado de certeza, ou mesmo de "valor"? Acho que aqui poderíamos concordar que o amor, se certeza for, é a mais incerta que existe, pois não oferece controle nem garantia de nada. Pela fé, por exemplo, sinto-me convicto sobre o amor de Deus pelo mundo; mas não há, nem nunca houve, garantias de que o mundo abraçará ou compreenderá o amor de Deus, às vezes sinto o contrário: que o mundo, ou seja, nós-mundo nos tornamos antítese desse amor, especialmente quando fazemos coisas horríveis, como sacrificar pessoas, "pelo amor de Deus", ou por amor à sua "verdade". Ironia das ironias: o Senhor amou o mundo, mas o mundo escolheu pregá-lo numa cruz! E ainda prosseguimos numa crucificação sem fim...
É, caro Rubem, as coisas aqui andam muito estranhas, especialmente nesse lugar mais deslocalizado possível chamado Facebook, onde algumas linhas ou imagens podem gerar uma tempestuosa indisposição entre pessoas, às vezes entre amigos, ou até mesmo entre irmãos. Seria por efeito das “certezas”, sobre as quais você falou, ou pela teimosia orgulhosa em não admitir nossas fraquezas, pontos falhos ou cegos? E como poderíamos falar de certezas senão por determinados pontos de vista? E como separá-las das fogueiras, se não mais toleramos os pontos de vista uns dos outros? Que faremos, pois: abolimos as certezas? E como fazer isso sem, de novo, aniquilar as pessoas? O relativismo, no fim das contas, parece mesmo ser um absolutismo invertido. Talvez se nos esvaziássemos, pelo menos, da pretensão de enxergar sempre melhor e mais acuradamente que os outros, da pretensão de preencher todos os espaços vazios, da pretensão ao conhecimento absoluto, a coisa já melhoraria muito, e as “certezas” já não seriam mais tanto um problema.
Quero então tentar uma nota diferente. As certezas que nutro, pela relatividade de meus pontos de vista, do lugar a partir do qual vejo e falo, são e serão decididamente incertas. E não existirão mais para achatar pontos de vista de outrem, pois, se não são capazes de conversar civilizada e respeitosamente, mesmo que em tom declaradamente dissonante, é melhor que permaneçam caladas. Desisto de tentar vencer sempre, pois um mundo onde todos querem a vitória (de seu partido, ideologia, visão doutrinária, religião ou nação), só pode ser um mundo em guerra e, por conseguinte, fadado à destruição. Quero viver uma vida em que as perdas sejam jubilosamente acolhidas como oportunidades, e as vitórias eventuais sejam celebradas humilde e humanamente com poesia e canto, e não com marchas triunfais. Que eu aprenda a abdicar de uma das mais tentadoras para mim: a marcha triunfal do pensamento. Pois ela é tanto triunfal, quanto inquisitória; tanto triunfal, quanto excludente.
Nunca me esquecerei de algo que você disse sobre os teólogos no prefácio ao seu livro “Por uma teologia da libertação”. Você disse que alguns deles se parecem com o galo: “Acham que se não cantarem direito, o sol não nasce: como se Deus fosse afetado por suas palavras. E até estabelecem inquisições para perseguir galos de canto diferente, e condenam outros a fechar o bico, sob pena de excomunhões”. Isso, porque “todos estão de acordo em que existe uma partitura original, revelada, autoritativa, e que a tarefa da teologia é tocar sem desafinar... Qualquer que seja a aposição, todos afirmam que existe um único jeito de tocar a música”. Você sabia o que estava dizendo, Rubem, pois enfrentou essa fúria galinácea na pele, não foi? E, como dizia Voltaire, por seus próprios “irmãos”! Não deve ser nem um pouco fácil ser apunhalado por gente da própria família, que pela frente diz “meu amado”, e pelas costas te condena como liberal, herege ou coisa que o valha, e não me admira que tenhas evitado para si o rótulo de “teólogo” depois disso (eu até acho que teria feito o mesmo). Por essa razão, me junto, sem querer me comparar, a você em prosseguir tentando “inventar outros cantos, sabendo que o sol não vai se zangar e vai nascer sempre, no mesmo lugar”. Gostei também da expressão que você usou para traduzir isso: “Graça”. Permita-me então encerrar transformando suas palavras em uma oração, dirigida agora especialmente a nossos camaradas teólogos/as:
Que produzamos novos cantos teológicos, com coragem e responsabilidade, com inventividade e fidelidade, mas sem medo de desafinar, conscientes de que “a bondade de Deus continua a mesma, sempre, independente de nossas afinações ou desafinações. Ele [o sol] nem nasce melhor quando estamos afinados, e nem nasce pior quando estamos desafinados... Temos, portanto, a liberdade de fazer o que quiser... Eu não suportaria pensar que meu pensamento é tão poderoso que, caso eu pense errado, Deus vai ficar torto”. 


 
Jonathan

Paradoxos da fé



Paradoxos da fé

Na famosa definição de Hebreus, a fé é “a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos” (Hb 11.1). Tomada fora do contexto e de modo descomplicado, essa definição pode enganar um pouco no aspecto dessa “certeza” e dessa “convicção” sobre a qual fala o texto. Que tipo de certeza é essa? Em que se baseia tal convicção? A tese de Hebreus 11, no verso 1, perde muito de seus sentidos possíveis se desatrelada de todo o texto. Minha intenção não é fazer uma exposição do texto, e sim apontar alguns paradoxs da fé importantes nele.

O primeiro é o paradoxo da fé entre a certeza e a incerteza. Do que a fé é pode ser certa? Daquilo que, do ponto de vista humano, aparenta ser o mais incerto. A fé, por exemplo, é certa da existência de Deus, não porque Deus tenha se mostrado de maneira clara por meio de evidências ou provas, e sim porque, na linguagem de Tillich, esta pessoa foi tomada pelo incondicional e o eterno. Como diz Kierkegaard (2012, p. 77): “A fé é antecedida por um movimento de infinito; é apenas então que ela surge, nec inopinate, em razão do absurdo”. Tillich (1957, p. 65), de modo semelhante, também afirma que “todo ato de crer pressupõe participação naquilo para que está dirigido. Sem uma experiência anterior do incondicional não pode haver fé no incondicional”.

O cientista tem provas de uma realidade na medida em que essa realidade se dá a investigar, e então ele tem uma certeza objetiva. O médico pode chegar a ter certeza sobre as origens de uma doença X, porque os exames que ele fez provaram que ela veio da ação de uma bactéria Y. Na fé não é assim. A fé não é apenas certeza do mais incerto, como certeza que se sustenta sob condições incertas. Hebreus diz que quando Deus chamou Abraão, por exemplo, este se dirigiu “a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo” (11.8). Abraão partiu na certeza da promessa, no entanto, sem saber. Creu para essa existência, mas não obteve o que esperava nessa existência. Creu porque foi movido pelo incondicional, e porque teve a coragem da fé e o risco de suportar suas eventuais dúvidas e incertezas. E, como diz Tillich (1957, p. 15), “é suportando corajosamente a incerteza que a fé demonstra o mais fortemente o seu caráter dinâmico”.

O segundo é o paradoxo da fé entre o visível e o invisível. Já disse anteriormente que o fundamento da fé (o incondicional) se encontra além da concreticidade dos fatos, portanto, além do que os olhos podem ver, de modo que a testemunha ocular, digamos, de um milagre, não necessariamente se torna um discípulo. Como disse Ariovaldo Ramos (2015) recentemente, “milagre não gera fé, gera festa”. Hebreus diz que a fé é “prova das coisas que não vemos”. Então “fé”, nesse sentido mais estrito, significa confiança naquilo que não se pode ver, ao que não se tem acesso imediato.

Tomemos o exemplo de Moisés (11.23-29). O texto diz que, ao abandonar as riquezas e pompas do palácio no Egito, Moisés “permaneceu firme como quem vê o que é invisível” (v. 27). Ora, a própria ideia de “ver o invisível” já é um paradoxo. Logo, os olhos que “viram” não são estes humanos, mas os da fé, que se cria a partir da visão do inexistente porque “vê além”. Aqui facilmente alguém pode se recordar do que Jesus disse a Tomé, segundo o evangelho de João. Depois que este o viu e tocou em sua mão e em seu lado, declarou “Senhor meu e Deus meu”. Vendo aquilo, Jesus replicou: “Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.26-29). “Assim, a fé crê no que não vê” (Kierkegaard, 2008, p. 118)

O terceiro é o paradoxo da fé entre a promessa e a realização. Chegamos a culminância dos outros dois paradoxos: o discípulo, que tem a confiança certa nas condições mais incertas, que crê naquilo que não vê, mas espera ansiosamente, deve também, como os “heróis da fé” de Hebreus, acreditar e viver segundo orienta a promessa, sabendo, porém, que pode não chegar a experimentá-la em vida. Quando pensamos na figura do herói no sentido hollywoodiano, a imagem que mais comumente surge é de poder, luta, com eventuais contratempos, mas sabendo que, no fim, o triunfo é certo, pois o herói sempre vence. Sem muita consciência projetamos essa imagem na vida, e não diferente na vida de fé. Nutrimos a certeza de que aquele que plantou o bem, lutou para alcança-lo, trabalhou duramente para sua conquista, ao final, será recompensado. Entretanto, a realidade é mais complexa que isso. Eclesiastes tentou nos alertar a esse respeito ao concluir que a vida é miserável, fugaz, cheia de sofrimento e sem sentido; que a sabedoria pode trazer vida, mas nem por isso o sábio está garantido em comparação com o tolo, às vezes a vida vira do avesso, e vemos o sábio sofrendo muito enquanto o tolo, apesar de suas tolices, só se dá bem. Ele também diz que sol nasce para todos e o fim é o mesmo para todos, pobres ou ricos, sábios ou tolos, justos ou injustos. E que, durante a vida, “cedo ou tarde, a má sorte atinge a todos. Ninguém pode prever a desgraça. Como peixes capturados numa rede cruel ou pássaros numa gaiola, os homens e as mulheres são capturados pelo mal acidental e repentino” (Ec 9.11-12, A Mensagem).

Podemos discordar, ficar bravos e profundamente incomodados com Eclesiastes, e com certa dose de razão, afinal, geralmente não somos preparados para lidar com as más notícias – nem pela família, tampouco pela sociedade ou pela religião –, apenas com as boas, como se o otimismo e o pensamento positivo nos garantissem vitória e vida longa. Contudo, de nada adianta espernear, fechar os olhos ou negar a realidade. Quem pensa que a vida de fé pode blindá-lo contra o sofrimento, facilmente envereda pela rua do engano e da ilusão. Primeiro, porque não há nenhuma garantia cósmica de que ter fé é ter proteção e segurança; segundo, porque não há nenhuma garantia bíblica, no sentido global, que sugira isso. Muito pelo contrário. Andar nos caminhos da fé, por sua própria natureza e pela natureza da vida, implica em enfrentar dificuldades várias, como foi o caso dos anti-heróis de Hebreus. Experimentaram, sim, a proteção divina em algumas circunstâncias e até viram algumas promessas sendo cumpridas, mas também “enfrentaram abusos, açoites e, sim, algemas e prisões”; alguns “foram apedrejados, serrados ao meio, assassinados a sangue frio”. Vaguearam pela terra, sem teto, força ou amigos, “vivendo como podiam nas periferias cruéis do mundo”, que, como diz o autor, não era digno deles! (11.32-38, A Mensagem).

E o autor de Hebreus finaliza claramente expressando o paradoxo em questão: “Entretanto, nenhum desses exemplos de fé puseram a mão na recompensa prometida. Deus tem um plano melhor para nós: que nossa fé se junte à deles, para formar um todo completo, como se a vida de fé que eles tiveram não fosse completa sem a nossa” (11.39-40, A Mensagem). Caminhar na fé, segundo Hebreus, implica em lançar-se nos paradoxos sem seguro de vida ou de triunfo. Aliás, Kierkegaard foi taxativo e um tanto duro a esse respeito, seguindo a lógica ilógica de Hebreus, quando disse que:
Em verdade, se ocorresse à fé alguma vez a ideia de avançar assim, triunfalmente en masse, então ela não precisaria autorizar alguém a cantar refrões satíricos, porque de nada adiantaria proibi-lo a todos. Mesmo que os homens emudecessem, ouviríamos sobre esta louca procissão uma risada estridente como aqueles sons zombeteiros que a natureza faz ouvir no Ceilão; pois a fé que triunfa é a mais ridícula de todas as coisas. Se a geração contemporânea de crentes não teve tempo de triunfar, nenhuma outra o conseguirá; pois a tarefa é a mesma, e a fé é sempre militante; mas enquanto ainda houver luta haverá a possibilidade de derrota, e por isso, no que concerne à fé, jamais se triunfa antes do tempo, ou seja, jamais se triunfa no tempo [...]. (Kierkegaard, 2008, p. 152-153).

Que vantagem há na fé? Que proveito ela, porventura, traz? Afora as promessas falsas provenientes de uma falsa piedade – porque apartada da vida real –, a resposta honesta pode ser: nenhuma! E quem disse que a fé tem a ver, primordialmente, com vantagem e com proveito? Se algum proveito há na fé – claro que estou falando aqui da fé cristã – esse não está primeiramente voltado para a pessoa em si, mas para o próximo da fé, tanto no presente, quanto no futuro, pois a fé que vive no paradoxo se concretiza de várias formas já, só que plantando sementes para a eternidade. O final do capítulo 11 de Hebreus é sugestivo de que a fé do discípulo não é fé em si ou para si, mas é fé para a posteridade, é a fé que cresce e amadurece nos outros. É, nesse sentido, uma dádiva, um bem comunitário, um tipo de fé que se forja na junção do si mesmo e do/com o outro. Ali germina, ali cresce, e dali se expande para a eternidade.
Jonathan

Referências bibliográficas
KIERKEGAARD, Sören. Temor e tremor. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2012.
_______. Migalhas filosóficas: ou um bocadinho de filosofia de João Clímacus. 2ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
PETERSON, Eugene. A Mensagem. Bíblia em linguagem contemporânea. São Paulo: Editora Vida, 2011.
RAMOS, Ariovaldo. Convergir. Palestra proferida na Soul Igreja Batista, Rio de Janeiro, 15/09/2015. Ver: . Acesso em 16 set. 2015.
TILLICH, Paul. Dinâmica da fé. 4ª ed. São Leopoldo, RS: Sinodal, 1957.

Quando a verdade é atacada, quem pode pagar conta é a fé

Quando a verdade é atacada, quem pode pagar conta é a fé

Corinthian_Column_of_the_Temple_of_Zeus_in_Athens 

No último domingo as igrejas que fazem uso das lições bíblicas da CPAD estudaram sobre a apostasia da fé, tendo como texto-base a primeira carta de Paulo ao jovem Timóteo. Nesta carta Paulo declara que a igreja é “a coluna e o fundamento da verdade”[1]. De acordo com Stott isso significa que a igreja deve defendê-la e confirmá-la, além de proclamar o evangelho[2]. Aqui Paulo mostra que a igreja é serva da verdade, logo se a verdade for tirada dela, a igreja perde seu propósito.


No capítulo 4 somos exortados pelo Espírito Santo que muitos apostatarão da fé, ou seja, abandonarão de forma premeditada e consciente a fé cristã ao darem “ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios”. Observe que nesta exortação o que está sendo atacado pelo inferno é a verdade. Não é estranho que nestes últimos dias, assim como em outros, tem se levantado tanto de dentro quanto de fora da igreja movimentos e ideias sob os auspícios de espíritos enganadores que atacam as doutrinas clássicas do Cristianismo ou instituições já cristalizadas desde a formação da sociedade sob influência da fé judaico-cristã.
Ao falar em espíritos enganadores e demônios pode vir à mente de alguns a imagem de filmes de terror ou de sessões do descarrego da IURD, com aquelas atuações de possessão e mudança de voz. No entanto não é bem isso que Paulo tem em mente, mas que estas entidades atuam nos bastidores de iniciativas que se opõe a verdade do evangelho. De modo semelhante o apóstolo João ao exortar a igreja a não crer em todo espírito, orienta-a a discernir quando são de Deus ou não: quem negar a encarnação de Cristo não é de Deus[3]. Ora, o que João estava combatendo era o gnosticismo, uma seita, que “negava que Jesus veio em carne”. E se não houve encarnação, não houve crucificação e por tabela nem a ressurreição, logo ainda vivemos em nossos pecados e a nossa fé é em vã.
A igreja como coluna e fundamento da verdade não pode se omitir da defesa, confirmação e proclamação do evangelho, sob pena de se assim agir perder sua identidade e comprometer sua missão. Pois quando a verdade é confrontada e não defendida, quem irá no final pagar a conta será a fé. A mesma fé pela qual o justo deve viver. Aquela fé que aqueles que combatem o bom combate e acabam a carreira devem guardar. A fé que nos define e que revela a nossa identidade. A fé que nos mostra o que é o amor e nos ensina a amar. A nossa fé, aquele que vem pelo ouvir a Palavra de Deus.

Eu também não te condeno

 

 

 

 Pode procurar que você não vai achar. Não importa aonde vá, estou absolutamente convencido de que há duas coisas que você nunca vai achar. Você pode correr o mundo e o tempo, e tenho certeza que jamais conseguirá achar alguém que não se envergonhe de algo em seu passado. Para qualquer lugar que você vá, lá estarão elas, as pessoas que gostariam de apagar um momento, uma fase, um ato, uma palavra, um mínimo pensamento. Todo mundo tenta disfarçar, e certamente há aqueles que conseguem viver longos períodos sem o tormento da lembrança. Mas mesmo estes, quando menos esperam são assombrados pela memória de um ato de covardia, um gesto de pura maldade, um desejo mórbido, um abuso calculado, enfim, algo que jamais deveriam ter feito, e que na verdade, gostariam de banir de suas histórias ou, pelo menos, de suas recordações.


Isso é uma péssima notícia para a humanidade, mas uma ótima notícia para você: você não está sozinho, você não está sozinha. Inclusive as pessoas que olham em sua direção com aquela empáfia moral e sugerem cinicamente que você é um ser humano de segunda ou terceira categoria, carregam uma página borrada em sua biografia, grampeada pela sua arrogância e selada pelo medo do escândalo, da rejeição e da condenação no tribunal onde a justiça jamais é vencida. Você não está sozinho. Você não está sozinha. Não importa o que tenha feito ou deixado de fazer, e do que se arrependa no seu passado, saiba que isso faz de você uma pessoa igual a todas as outras: a condição humana implica a necessidade da vergonha.

A segunda coisa que você nunca vai encontrar é um pecado original. Não tenha dúvidas, o mal que você fez ou deixou de fazer está presente em milhares e milhares de sagas pessoais. Não existe algo que você tenha feito ou deixado de fazer que faça de você uma pessoa singular no banco dos réus – ao seu lado estão incontáveis réus respondendo pelo mesmíssimo crime. Talvez você diga, “é verdade, todos têm do que se envergonhar, mas o que eu fiz não se compara ao que qualquer outra pessoa possa ter feito”. Engano seu. O que você fez ou deixou de fazer não apenas se compara, como também é replicado com absoluta exatidão na experiência de milhares e milhares de outras pessoas. Isso significa que você jamais está sozinho, jamais está sozinha, na fila da confissão.

Talvez por estas razões, a Bíblia Sagrada diz que devemos confessar nossas culpas uns aos outros: os humanos não nos irmanamos nas virtudes, mas na vergonha. Este é o caminho de saída do labirinto da culpa e da condenação: quando todos sussurrarmos uns aos outros “eu não te condeno”, ouviremos a sentença do Justo Juiz: “ninguém te condenou? Eu também não te condeno”.

É isso, ou o jogo bruto de sermos julgados com a medida com que julgamos. A justiça do único justo reveste os que têm do que se envergonhar quando os que têm do que se envergonhar desistem de ser justos.

VERGONHA

 

 

 

VERGONHA

Por Rui Barbosa, escrito em 1914

A FALTA DE JUSTIÇA, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação.A sua grande vergonha diante do estrangeiro, é aquilo que nos afasta os homens, os auxílios, os capitais.

A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas.

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime (na Monarquia), o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre, as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam e que, acesa no alto (o Imperador, graças principalmente a deter o Poder Moderador), guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Sofrimento: A escola de Deus 


Charles Spurgeon



Dizemos que o Capitão da nossa salvação tornou-se perfeito por meio do sofrimento – “Embora sendo filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hb 5.8) – portanto nós, que somos pecaminosos, e estamos longe de ser perfeitos, não nos admiremos se formos chamados a passar também por sofrimentos.

Será a cabeça coroada de espinhos, e estarão outros membros do corpo a rodopiar em torno dos regalos do bem-estar? Deve Cristo passar por mares de seu próprio sangue para conquistar a coroa, e estamos a caminhar em direção ao céu com os pés enxutos e sapatilhas de prata?

Não! A experiência de nosso Mestre ensina-nos que o sofrimento é necessário, e o filho nascido de Deus não deve escapar, e não escapará, se puder. Mas há um pensamento muito confortante no fato de “ser feito perfeito por meio do sofrimento” de Cristo. É que Ele pode ter completa simpatia por nós. “Ele não é um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas.”

Nesta simpatia de Cristo, encontramos um poder sustentador. Um dos antigos mártires disse: “Posso suportar tudo, pois Jesus sofreu, e Ele sofre em mim agora; Ele simpatiza comigo, e isto me faz forte”.

Crente, apodere-se dessa idéia em todos os momentos de agonia. Que a idéia de Jesus fortaleça-o à medida que caminha em seus passos. Encontre um amável suporte em sua simpatia; e lembre-se de que sofrer é uma coisa honrosa – sofrer por Cristo é glória.

Os apóstolos regozijaram-se por terem sido contados dignos de fazer isto. Na medida em que o Senhor nos dá graça para sofrer por Cristo e sofrer com Cristo, Ele, na mesma proporção, nos honra. As jóias de um cristão são as suas aflições. As regalias dos reis que Deus tinha ungido são seus transtornos, suas angústias, suas mágoas.

Não evitemos, portanto, de ser honrados. Não nos desviemos de ser exaltados. As mágoas nos exaltam, e os transtornos elevam-nos. “Se sofremos com Ele, com Ele reinaremos”.

O Céu 

David Wilkerson


Não ouvimos muitos sermões sobre o céu atualmente. Isso pode parecer estranho, já que a alegria de todo cristão é refletir sobre estar com o Senhor por toda a eternidade. A promessa do céu está no núcleo maior do evangelho que pregamos.

Mas há uma razão pela qual não ouvimos muito sobre esse assunto jubiloso. O fato é que a Bíblia não diz muito sobre como o céu é. Jesus nunca se assentou com os discípulos e explicou a glória e a majestade dos céus. Ele realmente disse ao ladrão sobre a cruz, "Hoje estarás comigo no paraíso", mas não disse como seria.

O apóstolo Paulo se refere aos céus quando fala de ter sido levado ao paraíso. Ele diz que viu e ouviu coisas que abalaram tanto a sua mente, que ele não tinha linguagem para as descrever. A idéia que se tem da descrição de Paulo é a de que, mesmo se ele pudesse explicar o que viu, as nossas mentes humanas não conseguiriam compreender.

Seja o Quê For Que Paulo Tenha Testemunhado no Céu Isso O Impactou de Tal Maneira, Que Para o Resto da Vida Ele Quis Ardentemente Estar Lá

Paulo era grato por sua vida, por seu chamado, seu ministério. Creio que ele amava o povo de Deus com paixão. Mas ao longo dos seus anos de ministério, o contínuo desejo de Paulo era ir para o lar celestial e estar com o Senhor. O seu coração simplesmente ansiava estar lá.

Então, onde é o céu? Não sabemos. Efetivamente sabemos que há um novo céu chegando, assim como uma nova terra. E esse novo planeta não será simplesmente a velha terra refinada pelo fogo, mas algo inteiramente novo. E o seu centro será a capital, a Nova Jerusalém.

Efetivamente também sabemos que o trono de Deus está no céu. Igualmente Jesus está lá, como estão os anjos do Senhor, em multidões incontáveis. Ainda mais, Paulo diz que uma vez estando lá, contemplaremos Jesus "face a face" (I Coríntios 13:12). Em resumo, teremos acesso pessoal imediato ao Senhor por toda a eternidade. (Amado, se isso apenas fosse todo o céu, seria o suficiente para mim!)

Evidentemente, aprenderemos coisas que simplesmente não podem ser contidas pela mente humana aqui na terra. Teremos acesso à mente do próprio Cristo, que é ilimitada. E eu creio que Ele vai nos ensinar a respeito todas as coisas eternas.

As Escrituras Sugerem que o Céu Não Será Só Para Relaxar e Não Fazer Nada Além de Ter Igreja

A Bíblia diz que no céu os santos governarão com o Senhor como "reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra" (Apocalipse 5:10). Agiremos como Seus servos lá - os santos "o servirão" (22:3).

Isso me diz que receberemos estimulantes e abençoadas missões nesse novo mundo que virá. As escrituras falam repetidas vezes do papel que os anjos têm desempenhado por toda a história, ministrando até a Jesus. Seja qual for o nosso excitante trabalho, podemos saber que continuará pela eternidade, porque os mundos de Deus não têm fim.

Considere por um momento o infinito aparente que vemos no espaço. Considera-se que o nosso próprio sistema solar deva ter ao menos cerca de dez bilhões de quilômetros de diâmetro, e é apenas um ponto no universo.

Descobertas científicas mostram que há sistema após sistema após sistema, aparentemente sem fim. Isso é tão tremendo para a mente.

Assim como o nosso sistema solar corre através do espaço, girando em torno do sol, inúmeros outros sistemas estão se movendo um sobre o outro igualmente. E está tudo tendo lugar segundo a divina ordem de Deus. Por essa razão creio que no céu iremos receber tarefas que são agora incompreensíveis às nossas mentes humanas.

Quando Paulo se Refere à Sua Experiência no Paraíso, Ele Fala de Ter Estado no “Terceiro Céu”

Os estudiosos no tempo de Paulo ensinavam que havia três camadas de céus: primeiro, a atmosfera física na qual habitamos; a seguir o segundo céu, onde as estrelas estão; e, finalmente, o terceiro céu onde Deus e o paraíso estão.

Tudo o que eu posso dizer sobre esse assunto com segurança é que Jesus ascendeu ao “céu acima de todos os céus”. E nos disse que está lá agora preparando um lugar para o Seu povo. Também disse, “Voltarei outra vez, e lhes levarei para lá. Onde Eu morar, vocês morarão”. Em resumo, amado, não dá para eu dizer como o céu é. E não sei muito sobre o que está acontecendo lá. Não tenho nova revelação a oferecer, não tenho uma versão como a de Paulo. Mas dá para dizer como o céu não é, e o que não está lá, pois isso é o quê as escrituras oferecem. E, como você verá, o que isso revela nos dá motivos para nos alegrarmos!

Começamos com a Visão do Apóstolo João em Apocalipse 21

João conta que não encontraremos as seguintes coisas no céu:

1. Não existirão mais mares. "Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Ap. 21:1). Ele está declarando que não haverão mais ameaças vindas dos grandes blocos de água: não haverá mais ciclones, furacões ou tsunamis assassinos. Na verdade, a única água que é mencionada quanto à essa nova terra será um rio de júbilo que corre através das ruas da Nova Jerusalém. João fala o seguinte dele: "Me mostrou o rio da água da vida, brilhante como cristal, que sai do trono de Deus e do Cordeiro" (22:1).

2. Não haverá lenços no céu. Não teremos nenhuma necessidade dessas coisas, pois os textos das escrituras implicam em que nem precisaremos de glândulas lacrimais. "(Deus) lhes enxugará dos olhos toda lágrima" (21:4). Segundo João, as lágrimas simplesmente não existirão no céu.

Igualmente, não haverá mais funerárias, caixões de defuntos ou cemitérios. Por que? Porque "A morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto" (21:4). Pense nisso: não ficaremos mais ao lado dos caixões, chorando a perda dos queridos. Não haverá mais choro ou luto, porque no céu nunca iremos morrer. Uma vez tendo sido ressuscitados do sepulcro terreno pelo poder da ressurreição de Cristo, nunca poderemos morrer outra vez.

3. Não haverá mais farmácias, hospitais, médicos, enfermeiras, ambulâncias, analgésicos ou receitas. João diz, "Já não haverá...dor" (21:4).

Sou lembrado de uma mãe e de sua filha deficiente que visitaram a nossa igreja. O filho dessa senhora havia cometido suicídio após sete anos suportando uma dor excruciante que médico algum conseguia diagnosticar. Durante esse tempo, ele tinha de tomar narcóticos fortes pois só assim conseguia suportar mais um dia. A origem dessa dor nunca foi encontrada.

Agora a filha está mostrando os mesmos sintomas. Trata-se de uma bailarina talentosa e estudante brilhante, que ganhou prêmios e bolsas de estudo. Mas a situação dela se deteriorou tanto, que agora enfrenta dor torturante e contínua.

Como o irmão, essa jovem vive com um grau tão elevado de dor que "numa escala de zero a dez, sua dor chega a catorze", segundo os médicos. Foi dito que os narcóticos dos quais ela precisaria para a dor seriam tão fortes, que a matariam em poucos meses.

Nunca Me Esquecerei dos Últimos Dias na Terra de Nossa Preciosa Netinha, Tiffany

A dor de minha neta devido ao tumor cerebral ficou tão intensa que os seus membros se agitavam violentamente. Ela sofria terríveis convulsões, e eu tinha de ajudar seu pai a segurar os braços e as pernas de Tiffany nessas horas de dor.

A dor era simplesmente demais para ela, e na verdade era demais para os seus avós, também. Finalmente, Tiffany disse à mãe que o Senhor havia falado ao seu coração, dizendo "Quero que você venha para o lar celestial. Comigo, não haverá mais dor".

O versículo de João tem um significado especial para mim: "Já não haverá...dor" (21:4). Como avô de Tiffany, eu descanso no conhecimento de que é aí que a minha netinha está nesse exato momento: com Jesus, onde não há mais dor.

4. Não haverá mais medo, não haverá mais incredulidade, não haverá mais coisas abomináveis, assassinatos, mentiras ou feitiçaria. A Bíblia diz que todos os que praticam tais coisas serão lançados no lago de fogo: "Quanto...aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras, e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre" (Ap. 21:8).

Os jornais noticiaram há algum tempo que um casal de idosos foi encontrado morto em seu apartamento. Eles ficaram com tanto medo de serem roubados ou atacados, que sempre trancavam as portas de casa e vedavam todas as janelas. Estavam tão aterrorizados de medo que faziam isso mesmo durante as terríveis ondas de calor do verão, e acabaram se sufocando.

Não haverá mais esse medo no céu. Nem haverá mais qualquer violência ou assassinato. Há pouco, um homem que atacava crianças admitiu ter molestado mais de duzentas delas. Graças a Deus, no céu não haverá mais tais abominações.

5. Não haverá mais motivos para se mudar no céu. A minha mulher e eu já nos mudamos de uma casa para outra inúmeras vezes em nossa vida adulta. Sou grato porque quando chegarmos ao céu, nunca mais teremos de nos mudar. Como eu sei disso? Jesus diz: “Não se turbe o vosso coração...Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar” (João 14:1-2).

Há pouco li sobre uma senhora cristã que perguntava, “Se haverá multidões no céu que não podem ser contadas, como seria possível Deus fazer habitação para todos? Como poderia haver lugar suficiente para tantos moradores?”.

Vejamos as Palavras de Jesus Sobre Esse Assunto: “Vou Preparar-vos Lugar”

Tais palavras devem ter um significado para nós. Alguns estudiosos da Bíblia interpretam Jesus aqui como “muitas habitações”. Isso pode ou não estar correto. Tudo o que eu sei é o seguinte: se Cristo está construindo, podemos ficar seguros de que é algo glorioso.

Ao pensarmos no lugar que o nosso Senhor está construindo para nós, não devemos imaginar uma casa de tijolos ou algo assim. Pelo contrário, as moradas dEle no geral são de uma outra dimensão ou esfera. Como humanos, não conseguimos imaginar um mundo no qual o corpo passe livremente através de substâncias materiais. (Jesus fez isso após a ressurreição, e diz que no céu os nossos corpos de glória serão como o dEle.) Esse é um domínio que cientista nenhum descobriu, algo enormemente diverso de tudo que possamos compreender.

O importante que Jesus traz sobre o céu é, “Esse é o lar celestial. Vocês vão viver eternamente onde Eu vivo”. “E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Jo. 14:3). Em termos simples, há um lar na eternidade para cada um de nós. E Jesus diz basicamente, “Quando esse dia chegar – quando vocês estiverem aqui comigo – Eu pessoalmente mostrarei o que construí para vocês”.

6. Não há inválidos no céu, nem cegos, surdos, ou corpos em declínio.

A Bíblia diz que teremos novos corpos no céu. Claro, essa é uma doutrina bem conhecida dos cristãos, e Paulo tinha muito a falar sobre ela. Ele escreve, “Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? E em que corpo vêm?” (I Cor. 15:35). Em outras palavras, as pessoas podem se perguntar, “Que tipo de corpo ressuscitará dos mortos?”.

Paulo Responde que o Corpo Que Entra na Sepultura Não é o Corpo Que Sairá Dela

“Quando semeias, não semeias o corpo que há de ser...Mas Deus lhe dá corpo como lhe aprouve” (I Cor. 15:37-38). Em outras palavras, “Os corpos que habitaremos no céu serão à Sua semelhança. Serão celestiais e não terrenos”.

De acordo com Paulo, o nosso corpo físico é “semeado na corrupção” mas “ressuscitado na incorrupção”. Simplificando, quando o nosso corpo é “semeado” – ou, enterrado, ele é um corpo natural, terrestre. Mas quando formos ressuscitados, será como um corpo celestial, do céu. O corpo que teremos então será “glorificado” pelo poder de ressurreição de Cristo.

As escrituras nunca dizem que Deus vai procurar partes perdidas do corpo como membros, um por um dos dentes, cada poeira de nosso corpo natural, e dar um jeito de juntá-los. Pelo contrário, Paulo ensina, “A carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus”. A seguir acrescenta, “Num momento, num abrir e fechar d’olhos, ao ressoar da última trombeta... A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (15:50,52).

Os Nossos Corpos de Glória Serão à Exata Semelhança de Cristo

Naquele dia extraordinário, os túmulos se abrirão. E em Seu tremendo poder, o Senhor criará corpos novos e eternos. Esses corpos serão a imagem do santo e do justo, e nunca se corromperão. E quando isso acontecer, nós falaremos uma língua - uma nova língua que todos iremos compreender. Na verdade, todas as coisas serão feitas novas.

Mais eletrizante para mim é o que acontecerá para as milhões de crianças mortas ou morrendo - - de todas as eras. Em um instante, essas preciosidades serão levantadas com novos corpos. Penso nas crianças cujos corpos foram para a cova devido à doença, ou cujas carnes foram trucidadas em genocídios, cujos corpos foram estilhaçados por bombas.

Também penso em homens e mulheres cujos corpos foram desfeitos e destruídos pela doença; penso também nos corpos que foram enterrados em caixões vedados. Penso nos mártires de todas as épocas, nos que morreram por meio da tortura, foram mutilados, serrados ao meio, decapitados, queimados em fogueiras. Todos estes sairão dos túmulos com novos corpos, para nunca mais verem a corrupção ou a dor.

A minha mente tem dificuldades em registrar essas coisas – contudo o meu coração se alegra com elas!

7. Não haverá relógios no céu, pois o tempo não existirá mais.

João escreve que um anjo apareceu diante dele de pé sobre o mar e a terra. O anjo então levanta a mão para o céu e, segundo João, “Jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora” (Apocalipse 10:6).

Este é um dos Conceitos Mais Difíceis Para eu Pôr em Minha Mente

Chegará um momento quando o próprio tempo será deixado de lado. Imagine isso: nada de anos, nada de meses ou semanas, nada de mais dias, horas, minutos ou mesmo segundos. Não haverá nada para marcar o tempo, nem a noite nem a luz do dia, pois Cristo será a luz no paraíso.

Um pastor Puritano tentou descrever à sua igreja a ausência de limite da eternidade. Disse para que eles não tentassem entender, que a eternidade sempre foi e sempre será; sem começo ou fim. Deu-lhes essa ilustração: “Visualize a terra como uma bola de areia, quase 50.000 quilômetros de circunferência. A cada mil anos, um passarinho voa sobre ela e retira um grão de areia. Quando ele remover o último grão, então a eternidade acabou de se iniciar”.

Em outras palavras, na grande trama da eternidade, o “tempo” está nesse momento fazendo apenas uma breve aparição. Dia virá em que o tempo terá totalmente servido ao seu propósito e será abolido. É tudo surpreendente demais para eu avaliar.

Paulo Resume Isso Com Uma Admoestação a Todo o Povo de Deus

Paulo exulta: “Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Coríntios 15:57). Muitos cristãos citam esse versículo diariamente, aplicando-o à suas lutas e tribulações. Mas o contexto no qual Paulo o diz sugere um significado mais profundo. Só dois versos antes, Paulo declara, “Tragada foi a morte pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (15:54-55).

Paulo estava falando eloqüentemente sobre o seu ardente desejo pelos céus. Ele escreve, “Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial” (2 Coríntios 5:1-2).

O apóstolo então acrescenta, “Entretanto, estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor” (5:8).

De acordo com Paulo, o céu – o estar na presença do Senhor por toda a eternidade – é uma coisa que devemos desejar de todo o nosso coração.

Ao Ponderar Sobre Estas Coisas que as Escrituras Dizem que o Céu Não Será, Um Quadro Glorioso Começa a se Formar

Primeiro, imagino a descrição que Jesus fez de um gigantesco encontro, quando os anjos “reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus 24:31).

Quando todas estas multidões estiverem reunidas, visualizo uma grande marcha da vitória acontecendo nos céus. Quase todo mundo conhece a música “When the Saints go Marching In” (quando os santos entrarem marchando). Tente imaginar essa música sendo tocada literalmente no céu, com milhões de crianças glorificadas cantando hosanas ao Senhor, do jeito que as crianças cantaram uma vez no templo. Que som de vitória e de louvor será: multidões de órfãos gritando, “Pai!”. Dá para eu ver direitinho o brilho da felicidade no rosto de Jesus. “Pois dos tais é o reino dos céus”, declarou.

Então vêm todos os mártires. Esses que já clamaram por justiça na terra agora gritam, “Santo, santo, santo!”. Imagino os decapitados tocando suas cabeças e dizendo, “Estou inteiro de novo”. Os que foram serrados ao meio buscam as marcas da agonia sobre seus corpos mas não acham nem uma. Os que foram queimados agora têm corpos inteiros, sem nenhum traço ou cheiro de fumaça. Todos estes estarão dançando com alegria, gritando, “Vitória, vitória em Jesus!”.

Então vem um poderoso bramido, um som nunca ouvido antes. É a igreja de Jesus Cristo, com multidões de toda nação e tribo. Esse grupo inclui os que foram viciados ou alcoólatras... que eram cegos ou enfermos... que eram pobres, enviuvados ou forçados a mendigar. Visualizo entre eles a empobrecida viúva que fielmente entregou sua moeda no culto, quando não tinha mais nada.

Talvez Tudo Isso Soe Distante ou Forçado Para Você, Mas o Próprio Paulo Testifica Sobre Isso

Quando o fiel apóstolo foi arrebatado ao céu, “ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir” (2 Coríntios 12:4). Paulo diz que ficou espantado com o que ouviu lá. Creio que estes foram exatamente os sons que ouviu: ele teve um vislumbre do canto e do louvor a Deus pelos que estarão se rejubilando em Sua presença, com seus corpos já inteiros, suas almas cheias da alegria e paz. Foi um som tão glorioso que Paulo pôde ouvi-lo mas não conseguia repeti-lo. Amado santo, torne o céu o seu desejo mais sincero. Jesus está voltando para os que desejem ardentemente estar com Ele lá!

Fonte: World Challenge

Coisas Que Até Um Ateu Pode Ver

Coisas Que Até Um Ateu Pode Ver 

- Augustus Nicodemus Lopes


Um número razoável de cientistas e filósofos ateus ou agnósticos vem em anos recentes engrossando as fileiras daqueles que expressam dúvidas sérias sobre a capacidade da teoria da evolução darwinista para explicar a origem da vida e sua complexidade por meio da seleção natural e da natureza randômica ou aleatória das mutações genéticas necessárias para tal.

Poderíamos citar Anthony Flew, o mais notável intelectual ateísta da Europa e Estados Unidos que no início do século XXI anunciou sua desconversão do ateísmo darwinista e adesão ao teísmo, por causa das evidências de propósito inteligente na natureza. Mais recentemente o biólogo molecular James Shapiro, da Universidade de Chicago, ele mesmo também ateu, publicou o livro Evolution: A View from 21st Century onde desconstrói impiedosamente a evolução darwinista. Thomas Nagel

E agora é a vez de Thomas Nagel, professor de filosofia e direito da Universidade de Nova York, membro da Academia Americana de Artes e Ciências, ganhador de vários prêmios com seus livros sobre filosofia, e um ateu declarado. Ele acaba de publicar o livro Mind & Cosmos (“Mente e Cosmos”) com o provocante subtítulo Why the materialist neo-darwinian conception of nature is almost certainly false (“Por que a concepção neo-darwinista materialista da natureza é quase que certamente falsa”), onde aponta as fragilidades do materialismo naturalista que serve de fundamento para as pretensões neo-darwinistas de construir uma teoria do todo (Não pretendo fazer uma resenha do livro. Para quem lê inglês, indico a excelente resenha feita por William Dembski e o comentário breve de Alvin Plantinga).

Estou mencionando estes intelectuais e cientistas ateus por que quando intelectuais e cientistas cristãos declaram sua desconfiança quanto à evolução darwinista são descartados por serem "religiosos". Então, tá. Mas, e quando os próprios ateus engrossam o coro dos dissidentes?

Neste post eu gostaria apenas de destacar algumas declarações de Nagel no livro que revelam a consciência clara que ele tem de que uma concepção puramente materialista da vida e de seu desenvolvimento, como a evolução darwinista, é incapaz de explicar a realidade como um todo. Embora ele mesmo rejeite no livro a possibilidade de que a realidade exista pelo poder criador de Deus, ele é capaz de enxergar que a vida é mais do que reações químicas baseadas nas leis físicas e descritas pela matemática. A solução que ele oferece – que a mente sempre existiu ao lado da matéria – não tem qualquer comprovação, como ele mesmo admite, mas certamente está mais perto da concepção teísta do que do ateísmo materialista do darwinismo.

Ele deixa claro que sua crítica procede de sua própria análise científica e que mesmo assim não será bem vinda nos círculos acadêmicos:

“O meu ceticismo [quanto ao evolucionismo darwinista] não é baseado numa crença religiosa ou numa alternativa definitiva. É somente a crença de que a evidência científica disponível, apesar do consenso da opinião científica, não exige racionalmente de nós que sujeitemos este ceticismo [a este consenso] neste assunto” (p. 7).

“Eu tenho consciência de que dúvidas desta natureza vão parecer um ultraje a muita gente, mas isto é porque quase todo mundo em nossa cultura secular tem sido intimidado a considerar o programa de pesquisa reducionista [do darwinismo] como sacrossanto, sob o argumento de que qualquer outra coisa não pode ser considerada como ciência” (p.7).

Ele profetiza o fim do naturalismo materialista, o fundamento do evolucionismo darwinista:

“Mesmo que o domínio [no campo da ciência] do naturalismo materialista está se aproximando do fim, precisamos ter alguma noção do que pode substitui-lo” (p. 15).

Para ele, quanto mais descobrimos acerca da complexidade da vida, menos plausível se torna a explicação naturalista materialista do darwinismo para sua origem e desenvolvimento:

“Durante muito tempo eu tenho achado difícil de acreditar na explicação materialista de como nós e os demais organismos viemos a existir, inclusive a versão padrão de como o processo evolutivo funciona. Quanto mais detalhes aprendemos acerca da base química da vida e como é intrincado o código genético, mais e mais inacreditável se torna a explicação histórica padrão [do darwinismo]” (p. 5).

“É altamente implausível, de cara, que a vida como a conhecemos seja o resultado da sequência de acidentes físicos junto com o mecanismo da seleção natural” (p. 6).

Não teria havido o tempo necessário para que a vida surgisse e se desenvolvesse debaixo da seleção natural e mutações aleatórias:

“Com relação à evolução, o processo de seleção natural não pode explicar a realidade sem um suprimento adequado de mutações viáveis, e eu acredito que ainda é uma questão aberta se isto poderia ter acontecido no tempo geológico como mero resultado de acidentes químicos, sem a operação de outros fatores determinando e restringindo as formas das variações genéticas” (p. 9).

Nagel surpreendentemente defende os proponentes mais conhecidos do design inteligente:

“Apesar de que escritores como Michael Behe e Stephen Meyer[1] sejam motivados parcialmente por suas convicções religiosas, os argumentos empíricos que eles oferecem contra a possibilidade da vida e sua história evolutiva serem explicados plenamente somente com base na física e na química são de grande interesse em si mesmos... Os problemas que estes iconoclastas levantam contra o consenso cientifico ortodoxo deveriam ser levados a sério. Eles não merecem a zombaria que têm recebido. É claramente injusta” (p.11).

Num parágrafo quase confessional, Nagel reconhece que lhe falta o sentimento do divino que ele percebe em muitos outros:

“Confesso um pressuposto meu que não tem fundamento, que não considero possível a alternativa do design inteligente como uma opção real – me falta aquele sensus divinitatis [senso do divino] que capacita – na verdade, impele – tantas pessoas a ver no mundo a expressão do propósito divina da mesma maneira que percebem num rosto sorridente a expressão do sentimento humano” (p.12).

Para Nagel, o evolucionismo darwinista, com sua visão materialista e naturalista da realidade, não consegue explicar o que transcende o mundo material, como a mente e tudo que a acompanha:

“Nós e outras criaturas com vida mental somos organismos, e nossa capacidade mental depende aparentemente de nossa constituição física. Portanto, aquilo que explicar a existência de organismos como nós deve explicar também a existência da mente. Mas, se o mental não é em si mesmo somente físico, não pode, então, ser plenamente explicado pela ciência física. E então, como vou argumentar mais adiante, é difícil evitar a conclusão que aqueles aspectos de nossa constituição física que trazem o mental consigo também não podem ser explicados pela ciência física. Se a biologia evolutiva é uma teoria física – como geralmente é considerada – então não pode explicar o aparecimento da consciência e de outros fenômenos que não podem ser reduzidos ao aspecto físico meramente” (p. 15).

“Uma alternativa genuína ao programa reducionista [do darwinismo] irá requerer uma explicação de como a mente e tudo o que a acompanha é inerente ao universo” (p.15).

“Os elementos fundamentais e as leis da física e da química têm sido assumidos para se explicar o comportamento do mundo inanimado. Algo mais é necessário para explicar como podem existir criaturas conscientes e pensantes, cujos corpos e cérebros são feitos destes elementos” (p.20).

Menciono por último a perspicaz observação de Nagel, que se a mente existe porque sobreviveu através da seleção natural, isto é, por ter se tornado na coisa mais esperta para sobreviver, como poderemos confiar nela? E aqui ele cita e concorda com Alvin Plantinga, um filósofo reformado renomado:

“O evolucionismo naturalista provê uma explicação de nossas capacidades [mentais] que mina a confiabilidade delas, e ao fazer isto, mina a si mesmo” (p. 27).

“Eu concordo com Alvin Plantinga que, ao contrário da benevolência divina, a aplicação da teoria da evolução à compreensão de nossas capacidades cognitivas acaba por minar nossa confiança nelas, embora não a destrua por completo. Mecanismos formadores de crenças e que têm uma vantagem seletiva no conflito diário pela sobrevivência não merecem a nossa confiança na construção de explicações teóricas do mundo como um todo... A teoria da evolução deixa a autoridade da razão numa posição muito mais fraca. Especialmente no que se refere à nossa capacidade moral e outras capacidades normativas – nas quais confiamos com frequência para corrigir nossos instintos. Eu concordo com Sharon Street [professora de filosofia na Universidade de Nova York] que uma auto-compreensão evolucionista quase que certamente haveria de requerer que desistíssemos do realismo moral, que é a convicção natural de que nossos juízos morais são verdadeiros ou falsos independentemente de nossas crenças” (p.28).

Não consegui ler Nagel sem lembrar do que a Bíblia diz:

"Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim" (Eclesiastes 3:11).

"De um só Deus fez toda a raça humana para habitar sobre toda a face da terra, havendo fixado os tempos previamente estabelecidos e os limites da sua habitação; para buscarem a Deus se, porventura, tateando, o possam achar, bem que não está longe de cada um de nós" (Atos 17:26-27).

Nagel tem o sensus divinitatis, sim, pois o mesmo é o reflexo da imagem de Deus em cada ser humano, ainda que decaídos como somos. Infelizmente o seu ateísmo o impede de ver aquilo que sua razão e consciência, tateando, já tocaram.


Fonte: O Tempora, O Mores

"O maior inimigo de Jesus é o Cristianismo"

"O maior inimigo de Jesus é o Cristianismo" 

- Augustus Nicodemus


Li esta frase hoje no Facebook. O problema dela é que não define nem Jesus e nem Cristianismo. Existem muitas concepções de Jesus e mais ainda do Cristianismo. Assim, a frase pode significar várias coisas para diferentes pessoas. Por exemplo.

Se o autor for um desigrejado, daquele tipo que quer Jesus mas não quer a igreja, ele deve entender, ao que parece, que Jesus era uma espécie de líder informal de um grupo desorganizado de pescadores, grupo este que após a sua morte se multiplicou em outros grupos que se encontravam em qualquer lugar, sem liderança, sem estrutura alguma, onde as coisas aconteciam sem planejamento e sem estrutura, ao sabor do "Espírito", onde não havia normas, críticas e o amor predominava. E Cristinianismo, para ele, deve ser uma religião que deturpou completamente este grupo informal de andarilhos, pois construiu templos, instituiu ofícios, estruturou liturgias, organizou-se hierarquicamente, criou credos doutrinários e confissões de fé, estabeleceu a disciplina eclesiástica e criou normas. E ao fazer isto, desviou-se de Jesus e de sua mensagem simples. E por usar o nome de Jesus, sendo uma religião que nada tem a ver com ele, se torna seu pior inimigo.

O problema com esta conceituação é que o desigrejado parece não conhecer direito nem Jesus e nem o Cristianismo histórico. Pois Jesus tinha muito pouco de informal na organização de seus discípulos e o Cristianismo nem sempre fez de sua estrutura e organização um fim em si mesmas.

Se o autor for um liberal, daquele tipo que faz a diferença entre o Jesus da história e o Cristo da fé, Jesus era um reformador judeu, à semelhança dos antigos profetas, que queria reformar o judaismo de seus dias e restabelecer a piedade da Torá, perdida no período dos Macabeus. Quem fundou o Cristianismo foi um de seus discípulos, um judeu chamado Saulo de Tarso, que tomou alguns conceitos ensinados por Jesus, bem como suas próprias interpretações da pessoa de Jesus, e os reformulou e adaptou a conceitos que ele já tinha antes, oriundos das religiões gregas e do gnosticismo. Portanto, o fundador do Cristianismo é Paulo e esta religião é diferente e distinta daquilo que Jesus ensinou. Ao criar o Cristianismo do Cristo da fé Paulo o tornou no maior inimigo do Jesus da história.

O problema do liberal é que ele rejeita o quadro que os Evangelhos nos dão de Jesus e também a autoria paulina da maioria das cartas que trazem o nome de Paulo. Ele reconstrói o cenário do cristianismo primitivo a partir das religiões pagãs, do gnosticismo e dos evangelhos apócrifos.

Creio que os Evangelhos nos deixam claro que Jesus passou aos seus discipulos determinadas instruções que, para serem seguidas, exigiriam alguma medida de organização, estruturação, hierarquia e formalização. Assim, a Igreja cristã, seguindo as orientações de Jesus, já nasceu estruturada e organizada. Eu não me refiro a templos, organistas, liturgia fixa, ou coisa do gênero. É claro que estas coisas foram acrescentadas ao longo do tempo. O que eu quero dizer é que, de acordo com o livro de Atos e as cartas dos apóstolos a igreja cristã tinha liderança, confissões, hierarquia, ofícios, e dois sacramentos ou ordenanças (ceia e batismo) além do exercício da disciplina. Estas coisas confirguram uma organização, ou um organismo estruturado, que veio a ter o nome de Cristianismo. Ou seja, não era uma fraternidade informal que se encontrava para bater papo sobre coisas espirituais. Portanto, não se pode ser contra o Cristianismo somente porque é uma religião organizada.

Já escrevi um artigo extenso aqui no blog "O Tempora O Mores!" sobre este assunto, onde mostro a base bíblica para a organização e estruturação das igrejas locais. Veja aqui.

Concordo que existem regras, liturgias e praxis no Cristianismo que são humanas e desnecessárias, mas isto não quer dizer que não existam regras, normas, e um grau de organização que foram determinados por Deus para a Igreja. Pensar que a Igreja de Cristo não tem um mínimo de organização, regras e normas é anarquia eclesiástica.

O Cristianismo só é o maior inimigo de Jesus quando deixa de professá-lo como Senhor e Salvador, quando nega sua morte vicária na cruz pelos nossos pecados, quando rejeita sua ressurreição e sua vinda, quando usa seu nome para arrecadar dinheiro para enriquecimento pessoal ou para promoção da própria glória, se seculariza, se mundaniza e deixa de ser sal e luz. É uma ignorância profunda passar uma condenação generalizada sobre todos os cristãos de serem inimigos de Jesus.

Seria bom saber se o autor da frase se considera amigo de Jesus, e porquê.


Fonte: O tempora, o mores!