O amor não é tão complexo quanto a física quântica nem tão abstrato como a maioria dos quadros do Jackson Pollock, agora eu sei.
O amor, acredite se quiser, está bem mais para feijão com arroz feito no capricho do que para o complexo prato de bistrô que comemos somente em datas comemorativas, cujo nome nós não conseguimos nem pronunciar.
O amor, apesar de exigir de nós constantes contorcionismos, tem muito mais a ver com um papai-e-mamãe cheio de entrega do que com elaboradas posições do Kama Sutra realizadas apenas a pedido do ego que, vez ou outra, coloca em xeque o próprio desempenho.
Engana-se quem pensa que o amor é apenas aquilo que rola em datas especiais, nas quais vestimos trajes de gala e trocamos presentes à luz de velas. Engana-se, redondamente, porque amor é, principalmente, a carícia verdadeira que acontece numa terça-feira comum; é o beijo na testa que antecede uma segunda-feira cheia de e-mails na caixa de entrada.
O amor, apesar de ser comumente representado por buquês imensos de rosas colombianas e por declarações de parar quarteirões, a meu ver, está muito mais para um “Eu adoro a cara que você faz quando acorda!” dito espontaneamente num domingo de manhã. Ou para um cafuné que continua a acontecer, a todo vapor, mesmo depois que os dedos começam a doer e o sono ameaça nos desligar.
Amar não é dar joias caríssimas escolhidas pela vendedora que precisa bater a meta para não levar um pé na bunda. Amar é ir ao supermercado só para escolher, com todo carinho do mundo, as frutas que ela gosta e que servirão como matéria-prima para uma vitamina surpresa capaz de mudar humores, amenizar os reflexos da TPM e fazer com que ela se esqueça das grosserias recém-ditas pelo chefe insensível.
Amar é aprender a dizer “Tá” em vez de “VÁ SE FERRAR!”; é arranjar forças para fazer silêncio quando houver vontade de berrar as tripas.
Amar é deixar uma blusa extra no carro por saber que ela vive a sair de casa sem consultar o Climatempo, é reservar apenas hotéis que têm secador de cabelo para evitar que ela caia no mundão de madeixas molhadas.
Amar é entender que em uma relação normal há muito mais calcinhas beges e confortáveis do que fios dentais de oncinha.
Amar é ajudar o outro a lidar com o tanto que o mundo vive a cobrar, em vez de se tornar mais um cobrador. Não entendeu? Se a sociedade tem mania de exigir rostos sempre maquiados e peles sem imperfeições, incentive-a a sair de cara limpa e a se amar, perdidamente, sem rímel, base e batom. Se ela não pode trabalhar de cabelos bagunçados e de Havaianas nos pés, faça o possível para demonstrar o quanto você ama vê-la dentro de trajes confortáveis, ao menos nos finais de semana ou quando estão de férias. Sacou? Porque amar é aliviar a pressão, não pressionar.
Amar não é preparar duas surpresas mirabolantes por ano e passar 363 dias sem tocá-la direto na alma. Amar é surpreendê-la com um cupcake coberto de Nutella quando ela estiver triste, com um abraço apertado quando ela estiver se sentindo só, com um “Eu gosto do seu cabelo assim” quando ela estiver se sentindo horrível, com um “Vai ficar tudo bem, acredite!” quando ela achar que tudo está prestes a desmoronar, com uma careta bizarra quando ela estiver achando a vida mais sem graça do que Zorra Total. E por aí vai…
O amor, em minha opinião, está mais para pijamas velhos, pernas entrelaçadas sob o edredom e maratonas de séries na TV do que para as poses repetidas e os beijos milimetricamente arquitetados que vemos em festas de casamento.
O amor é dia a dia, é manter os corações lado a lado faça chuva ou faça tempestade de sapos à la Magnólia; não é só aquilo que é retratado – e postado – em dia de solão, céu azul e feriado.
O amor é a soma de pequenas e regulares carícias atômicas, não uma faraônica comemoração anual feita para tentar suprir a constante falta delas.
O amor é um sopro diário que não deixa a chama apagar, não fogos de artifício lançados sazonalmente para tentar reacender uma fogueira que já não aquece mais.
- por Ricardo Coiro
Fonte: Superela
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